Dedicado à poetisa Célia Meira
Anda, vamos construir uma casa!
O teu corpo de algodão
é o alicerce.
Um lugar (in)comum.
Anda, vamos construir uma casa
neste chão em terra
lavrada pelos pés.
Anda, vamos construir uma casa
com ventos nos telhados
e janelas de chuva.
Anda, vamos construir uma casa
com portas de abraços.
Não há fechaduras.
Tudo se abre sem chave.
Anda, vamos construir uma casa!
Entre a cabeça e a boca
mastigo o cimento.
Quero paredes
enchidas de vozes,
ecos teus e meus.
Anda, vamos construir uma casa
sem métrica nem medida.
Que seja infinita
mas contida
nas suas raízes mais profundas.
Anda, vamos construir uma casa!
Tudo preto no branco.
Tudo branco no preto.
Na neutralidade seremos nós:
únicos.
Anda, vamos construir uma casa
decorada com os silêncios vazios
que se abrem em colcheias.
Anda, vamos construir uma casa!
Vamos aquecer-nos
no fogo dos olhos.
Anda, vamos construir uma casa!
Tenho palavras presas no cabelo.
Precisamos de algo novo
para habitar.