Walmir Ayala
Walmir Ayala, foi um poeta, romancista, memorialista, teatrólogo, autor de literatura infantojuvenil e crítico de arte brasileiro.
1933-01-04 Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil
1991-08-28 Rio de Janeiro, Brasil
12392
0
0
Pranto por Federico García
Disseram que a noite se alarmava
entre dois caules de aura
quando abateram o cristal profundo
da tua cara;
disseram que despertava o dia
Federico García.
Mas em tua carne anoitecia
uma urna letal de azufre,
e em teus cabelos despetalava
a fina flor de Andaluzia.
Disseram que o cão do horizonte
gemeu dolorosamente,
Federico,
E se ergueram lençóis de espinhos
à tua frente,
para amortalhar teu corpo
e sanar tua nostalgia,
para amansar tua boca
Federico García!
Tua boca que mais cantava
do que a morte jamais pensara,
tua boca como a bandeira
nos campos da tua cara,
campos de cravos e amêndoas,
de olivais e litanias,
onde os gitanos se abraçam
Federico García.
E teu canto, como uma pedra
fundia a fúria assassina,
e mais amargor havia
naquelas mãos delatoras,
do que na tua agonia,
ai, Federico García.
Teu canto quebrava espadas
nos ares de Andaluzia,
e as mães choravam os filhos
de Espanha, que em ti morriam;
mas morria mais que tudo
teu corpo de sol e azeite,
e eram em seios eternos
que então bebias teu leite!
Ai, Federico García!
E tudo eram rumos antigos
no espanto do teu sacrifício,
aqui estamos deplorados
neste doloroso vício
de viver, que era o teu gáudio;
aqui estamos com teu sangue,
com tua melancolia,
com tua guitarra heróica,
com teus touros de alegria,
e a paixão da liberdade.
Ai, FEDERICO GARCÍA!
Publicado no livro Poemas da Paixão (1967). Poema integrante da série Sangue na Boca.
In: AYALA, Walmir. Poesia revisada. Rio de Janeiro: Olímpica; Brasília: INL, 1972. p.348-35
entre dois caules de aura
quando abateram o cristal profundo
da tua cara;
disseram que despertava o dia
Federico García.
Mas em tua carne anoitecia
uma urna letal de azufre,
e em teus cabelos despetalava
a fina flor de Andaluzia.
Disseram que o cão do horizonte
gemeu dolorosamente,
Federico,
E se ergueram lençóis de espinhos
à tua frente,
para amortalhar teu corpo
e sanar tua nostalgia,
para amansar tua boca
Federico García!
Tua boca que mais cantava
do que a morte jamais pensara,
tua boca como a bandeira
nos campos da tua cara,
campos de cravos e amêndoas,
de olivais e litanias,
onde os gitanos se abraçam
Federico García.
E teu canto, como uma pedra
fundia a fúria assassina,
e mais amargor havia
naquelas mãos delatoras,
do que na tua agonia,
ai, Federico García.
Teu canto quebrava espadas
nos ares de Andaluzia,
e as mães choravam os filhos
de Espanha, que em ti morriam;
mas morria mais que tudo
teu corpo de sol e azeite,
e eram em seios eternos
que então bebias teu leite!
Ai, Federico García!
E tudo eram rumos antigos
no espanto do teu sacrifício,
aqui estamos deplorados
neste doloroso vício
de viver, que era o teu gáudio;
aqui estamos com teu sangue,
com tua melancolia,
com tua guitarra heróica,
com teus touros de alegria,
e a paixão da liberdade.
Ai, FEDERICO GARCÍA!
Publicado no livro Poemas da Paixão (1967). Poema integrante da série Sangue na Boca.
In: AYALA, Walmir. Poesia revisada. Rio de Janeiro: Olímpica; Brasília: INL, 1972. p.348-35
1190
0
Mais como isto
Ver também