Cantiga mundana

De teus olhos retirei a tristeza,
bebi as lágrimas salgadas;
lambi o abandono.

Ofereci esperanças, doei certezas -
segurança - e os lambuzei
com o mel dos meus.

Da tua boca seca arranquei
o riso louco de macho corno,
o sorriso morto de Prometeu.

Com os dedos refiz os sulcos
da boca ferida.
E com minha própria saliva
matei tua sede de vida.

Lavei tua alma, e a vesti
novamente em brios.
E - como se não bastasse -
a enfeitei com fios,
roubados, dos pêlos do homem
que, antes de ti, era o meu.

Te abri as pernas, as portas,
a seiva e a cama.
Te banhei no gozo de infinitas
noites profanas.
Te ninei em cantigas mundanas.

Depois de lavado, lambido.
Já saciado, curado, vestido.
Retornastes a teu destino
de animal predador.
Me deixando apenas alguns
pêlos dourados - que recolhi -
esquecidos no cobertor.

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Que poema lindo e intenso. Parabens
25/outubro/2012

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