António Gedeão
Rómulo Vasco da Gama de Carvalho, português, foi um químico, professor de físico-química do ensino secundário no Liceu Pedro Nunes e Liceu Camões, pedagogo, investigador de História da ciência.
1906-11-24 Lisboa, Portugal
1997-02-19 Lisboa
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A Funda
Arranquei à pele do peito,
com os dedos ensangüentados,
um retângulo perfeito
de cem centímetros quadrados.
Estendi-o ao sol a curtir
a haurir uns raios que projetam
certo incógnito elixir
que os detectares não detectam.
Depois de bem seco e rijo
prendi-lhe, nos quatros cantos,
quatro nervos desses tantos
com que me franjo e me aflijo.
Eis-me de funda na mão
no mais ereto dos montes,
devassando os horizontes
com os pés bem presos no chão,
as pernas em ângulo agudo
para assentar com firmeza
nessa dúvida de tudo
tão certa como a certeza.
Só, entre os fundibulários,
no centro dos meus domínios,
como o pastor dos Hermínios
na defesa dos contrários,
ponho na funda um poema
de agrestes arestas vivas,
e em rotações sucessivas
de celeridade extrema,
com todo o vigor do braço,
como o vento em torvelinho,
lanço o poema no espaço
no seu exato caminho.
com os dedos ensangüentados,
um retângulo perfeito
de cem centímetros quadrados.
Estendi-o ao sol a curtir
a haurir uns raios que projetam
certo incógnito elixir
que os detectares não detectam.
Depois de bem seco e rijo
prendi-lhe, nos quatros cantos,
quatro nervos desses tantos
com que me franjo e me aflijo.
Eis-me de funda na mão
no mais ereto dos montes,
devassando os horizontes
com os pés bem presos no chão,
as pernas em ângulo agudo
para assentar com firmeza
nessa dúvida de tudo
tão certa como a certeza.
Só, entre os fundibulários,
no centro dos meus domínios,
como o pastor dos Hermínios
na defesa dos contrários,
ponho na funda um poema
de agrestes arestas vivas,
e em rotações sucessivas
de celeridade extrema,
com todo o vigor do braço,
como o vento em torvelinho,
lanço o poema no espaço
no seu exato caminho.
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