Fernando Pessoa
Fernando António Nogueira Pessoa, mais conhecido como Fernando Pessoa, foi um poeta, filósofo e escritor português. Fernando Pessoa é o mais universal poeta português.
1888-06-13 Lisboa, Portugal
1935-11-30 Lisboa
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POEMA DE AMOR EM ESTADO NOVO
Tens o olhar misterioso
Com um jeito nevoento,
Indeciso, duvidoso,
Minha Marta Francisca,
Meu amor, meu orçamento!
A tua face de rosa
Tem o colorido esquivo
De uma nota oficiosa.
Quem dera ter-te em meus braços,
Ó meu saldo positivo!
E o teu cabelo — não choro
Seu regresso ao natural —Abandona o padrão-ouro
Amor, pomba, estrada, porta,
Sindicato nacional!
Não sei por que me desprezas.
Fita-me mais um instante,
Lindo corte nas despesas,
Adorada abolição
Da dívida flutuante!
Com que madrigais mostrar-te
Este amor que é chama viva?
Ouve, escuta: vou chamar-te
Assembleia Nacional
Câmara Corporativa.
Como te amo, como, como,
Meu Acto Colonial!
De amor já quase não como,
Meu Estatuto de Trabalho,
Meu Banco de Portugal!
Meu crédito no estrangeiro!
Meu encaixe — ouro adorado!
Serei sempre o teu romeiro...
Pousa a cabeça em meu ombro,
Ó meu Conselho de Estado!
Ó minha corporativa,
Minha lei de Estado Novo,
Não me sejas mais esquiva!
Meu coração quer guarida
Ó linda Casa do Povo!
União Nacional querida,
Teus olhos enchem de mágoa
A sombra da minha vida
Que passa como uma esquadra
Sobre a energia da água.
Que aristocrático ri,
O teu cabelo em cifrões — Finanças em mise-en-plis! —
Meu activo plebiscito,
Nunca desceste a eleições!
Por isso nunca me escolhes
E a minha esperança é vã.
Nem sequer por dó me acolhes,
Minha imprevidente linda
Civilização cristã!
Bem sei: por estes meus modos
Nunca me podes amar.
Olha, desculpa-mas todas.
Estou seguindo as directrizes
Do professor Salazar.
Com um jeito nevoento,
Indeciso, duvidoso,
Minha Marta Francisca,
Meu amor, meu orçamento!
A tua face de rosa
Tem o colorido esquivo
De uma nota oficiosa.
Quem dera ter-te em meus braços,
Ó meu saldo positivo!
E o teu cabelo — não choro
Seu regresso ao natural —Abandona o padrão-ouro
Amor, pomba, estrada, porta,
Sindicato nacional!
Não sei por que me desprezas.
Fita-me mais um instante,
Lindo corte nas despesas,
Adorada abolição
Da dívida flutuante!
Com que madrigais mostrar-te
Este amor que é chama viva?
Ouve, escuta: vou chamar-te
Assembleia Nacional
Câmara Corporativa.
Como te amo, como, como,
Meu Acto Colonial!
De amor já quase não como,
Meu Estatuto de Trabalho,
Meu Banco de Portugal!
Meu crédito no estrangeiro!
Meu encaixe — ouro adorado!
Serei sempre o teu romeiro...
Pousa a cabeça em meu ombro,
Ó meu Conselho de Estado!
Ó minha corporativa,
Minha lei de Estado Novo,
Não me sejas mais esquiva!
Meu coração quer guarida
Ó linda Casa do Povo!
União Nacional querida,
Teus olhos enchem de mágoa
A sombra da minha vida
Que passa como uma esquadra
Sobre a energia da água.
Que aristocrático ri,
O teu cabelo em cifrões — Finanças em mise-en-plis! —
Meu activo plebiscito,
Nunca desceste a eleições!
Por isso nunca me escolhes
E a minha esperança é vã.
Nem sequer por dó me acolhes,
Minha imprevidente linda
Civilização cristã!
Bem sei: por estes meus modos
Nunca me podes amar.
Olha, desculpa-mas todas.
Estou seguindo as directrizes
Do professor Salazar.
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