Fernando Pessoa
Fernando António Nogueira Pessoa, mais conhecido como Fernando Pessoa, foi um poeta, filósofo e escritor português. Fernando Pessoa é o mais universal poeta português.
1888-06-13 Lisboa, Portugal
1935-11-30 Lisboa
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Tece, amor, as grinaldas com que queres
Tece, amor, as grinaldas com que queres
Coroar o amor que nem sabemos ter,
Com brancas mãos em lento movimento
De papoulas e pobres malmequeres...
Tece-as para que ao menos o momento
Em que as teces nos possa pertencer.
Se para coroar o amor as teces
Pensas no amor tecendo-as, e assim amas;
Se vendo-te, em ti vejo que o conheces
Amo contigo o amor em que tu pensas.
E um momento o amor queima as suas chamas
Na ara das nossas almas já pretensas.
Mas se a grinalda é feita, o amor cessou.
Se é preciso entre nós o gesto e o gozo
Nunca o pensado amor levanta o voo.
Nunca da nossa noite de sentir
Raiou o sol do acto, e o olhar cobiçou
Uma coisa real que vá fruir.
No sonho do que nunca pode haver
Entre nós, porque há em nós o pensamento,
Gastamos o desejo sem o ter.
A taça cai do gesto mal seguro
Porque pensamos em beber, e o intento
Cansa o braço, e é entornado o néctar puro.
Viemos, meu amor, no fim da tarde.
O que há de sol é o que resta acima
Dos montes, poesia baça e sonho que arde,
E só pura saudade os céus anima.
O nosso olhar não ousa olhar o outro.
Outros tiveram por seu tempo o dia
Gozaram outros quando o sol era alto,
A vergonha que há em nós de sua orgia
É a vergonha de nós a não ousarmos.
Nós pensamos no amor em sobressalto
E para amarmos só nos falta amarmos.
Os deuses foram-se, e consigo foi
A clareza de alma para (com) a vida.
O que ontem era o gozo, é o que hoje dói.
O que ontem era a coisa possuída
É hoje só a coisa apetecida,
Ainda desejada e não ousada.
Coroar o amor que nem sabemos ter,
Com brancas mãos em lento movimento
De papoulas e pobres malmequeres...
Tece-as para que ao menos o momento
Em que as teces nos possa pertencer.
Se para coroar o amor as teces
Pensas no amor tecendo-as, e assim amas;
Se vendo-te, em ti vejo que o conheces
Amo contigo o amor em que tu pensas.
E um momento o amor queima as suas chamas
Na ara das nossas almas já pretensas.
Mas se a grinalda é feita, o amor cessou.
Se é preciso entre nós o gesto e o gozo
Nunca o pensado amor levanta o voo.
Nunca da nossa noite de sentir
Raiou o sol do acto, e o olhar cobiçou
Uma coisa real que vá fruir.
No sonho do que nunca pode haver
Entre nós, porque há em nós o pensamento,
Gastamos o desejo sem o ter.
A taça cai do gesto mal seguro
Porque pensamos em beber, e o intento
Cansa o braço, e é entornado o néctar puro.
Viemos, meu amor, no fim da tarde.
O que há de sol é o que resta acima
Dos montes, poesia baça e sonho que arde,
E só pura saudade os céus anima.
O nosso olhar não ousa olhar o outro.
Outros tiveram por seu tempo o dia
Gozaram outros quando o sol era alto,
A vergonha que há em nós de sua orgia
É a vergonha de nós a não ousarmos.
Nós pensamos no amor em sobressalto
E para amarmos só nos falta amarmos.
Os deuses foram-se, e consigo foi
A clareza de alma para (com) a vida.
O que ontem era o gozo, é o que hoje dói.
O que ontem era a coisa possuída
É hoje só a coisa apetecida,
Ainda desejada e não ousada.
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