Adélia Prado
Adélia Luzia Prado Freitas é uma escritora brasileira. Seus textos retratam o cotidiano com perplexidade e encanto, norteados pela fé cristã e permeados pelo aspecto lúdico, uma das características de seu estilo único.
1935-12-13 Divinópolis, Minas Gerais, Brasil
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Silabação
Na falha do dente mesma
ou entre ela e a estrela vermelha sobre o rio
cabem aviões e perguntas.
Fazem tediosas sentenças
sobre meu vestido e cabelos
enquanto eu faço um livro
que, segundo comadre minha,
‘deixa muitas recordações’.
Meu aspecto campônio
já perturbou um moço refinado
e passei maus bocados
com minha mãe me infernizando o ouvido:
‘vai arear seus pezinho à toa,
esse tal de Notajan
casa é com moça rica’.
Preferível seu ódio
a ouvir o nome querido
massacrado em sua boca.
Ó Jonathan, as palavras me matam,
as perfeitas e as cruas.
Milho, pó de café, sabão,
minha pobre mãe me preparou pra vida,
este vale de lágrimas.
Vale de lágrimas! Que palavra estupenda!
Assim diria, se soubesse,
em toda língua humana conhecida,
vale de lágrimas!
Os olhos da humanidade se exaurindo,
enchendo gargantas,
fossos entre os penhascos,
até virar um mar,
um mar salgado e amargo.
Mar, não, até virar um rio,
porque dizer assim vale de lágrimas
não é desesperado como o mar,
nem tão imenso.
O rio tem margens,
margens espraiam-se,
vegetação, animais, guardadores de gado,
o grito é ouvido.
ou entre ela e a estrela vermelha sobre o rio
cabem aviões e perguntas.
Fazem tediosas sentenças
sobre meu vestido e cabelos
enquanto eu faço um livro
que, segundo comadre minha,
‘deixa muitas recordações’.
Meu aspecto campônio
já perturbou um moço refinado
e passei maus bocados
com minha mãe me infernizando o ouvido:
‘vai arear seus pezinho à toa,
esse tal de Notajan
casa é com moça rica’.
Preferível seu ódio
a ouvir o nome querido
massacrado em sua boca.
Ó Jonathan, as palavras me matam,
as perfeitas e as cruas.
Milho, pó de café, sabão,
minha pobre mãe me preparou pra vida,
este vale de lágrimas.
Vale de lágrimas! Que palavra estupenda!
Assim diria, se soubesse,
em toda língua humana conhecida,
vale de lágrimas!
Os olhos da humanidade se exaurindo,
enchendo gargantas,
fossos entre os penhascos,
até virar um mar,
um mar salgado e amargo.
Mar, não, até virar um rio,
porque dizer assim vale de lágrimas
não é desesperado como o mar,
nem tão imenso.
O rio tem margens,
margens espraiam-se,
vegetação, animais, guardadores de gado,
o grito é ouvido.
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