José Sarney

político brasileiro, 31° presidente do Brasil

1930-04-24 Pinheiro
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Meditação sobre o Bacanga

As águas passam
É lua e as casas aparecem.
Sou eu. Narciso que se olha
E fenece.

Tudo é sombra, sombra e nada,
água e silêncio nas folhas e vales
rompidos pelo Bacanga em sulcos
de madrugada.
Faixa de vento na montanha a encher e vazar:
címbalos onde o tédio geme.

É o gigante do não esquecer e as vozes do mangue.
Sangue correndo das imagens mordidas
pelos dentes estranguladores da noite.

Narciso se olha
Satanicamente o brilho dos olhares
buscam
o que não existe mais.

Ele vivia além e tinha fome, mas pensava.
Comeu os pensamentos devorando os dias
o nome e a noite.
Doce rio que vem e bóia
na enseada.
Águas barrentas, sujas,
Liberdade que morreu
e se afoga
no Mar.

Medito sobre mim que já sou morto:
as canções fúnebres que me pesam
como pedras no vazio do
lembrar.

— Barquinho de vela
que vai sobre o mar.
Boneca amarela
que me vem roubar.

meus olhos fenecem e o presságio dorme
no espelho das águas que
escorrem.
(A Canção Inicial / l954)

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