Fernando Pessoa
Fernando António Nogueira Pessoa, mais conhecido como Fernando Pessoa, foi um poeta, filósofo e escritor português. Fernando Pessoa é o mais universal poeta português.
1888-06-13 Lisboa, Portugal
1935-11-30 Lisboa
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Triste horror d'alma, não evoco já
Triste horror d'alma, não evoco já
Com grata saudade tristemente
Estas recordações da juventude!
Já não sinto saudades como há pouco
Inda as sentia. Vai-se-me desmaiando,
Co'a força de pensar, contínuo e árido,
Toda a verdura e flor do pensamento.
Ao recordar agora apenas sinto
Como um cansaço só de ter vivido,
Desconsolado e mudo sentimento
De ter deixado atrás parte de mim,
E saudade de não ter saudade,
Saudade de tempos em que a tinha.
Se a minha infância agora evoco, vejo (
Estranho! — como uma outra criatura
Que me era amiga, numa vaga
Objectivada subjectividade.
Ora a infância me lembra como um sonho,
Ora a uma distância sem medida
No tempo, desfazendo-me em espanto;
E a sensação que sinto ao perceber
Que vou passando, já tem mais de horror
Que tristeza, apavora-me e confrange
E nada evoca nada a não ser o mistério
Que o Tempo tem fechado em sua mão.
Mas a dor é maior!
Com grata saudade tristemente
Estas recordações da juventude!
Já não sinto saudades como há pouco
Inda as sentia. Vai-se-me desmaiando,
Co'a força de pensar, contínuo e árido,
Toda a verdura e flor do pensamento.
Ao recordar agora apenas sinto
Como um cansaço só de ter vivido,
Desconsolado e mudo sentimento
De ter deixado atrás parte de mim,
E saudade de não ter saudade,
Saudade de tempos em que a tinha.
Se a minha infância agora evoco, vejo (
Estranho! — como uma outra criatura
Que me era amiga, numa vaga
Objectivada subjectividade.
Ora a infância me lembra como um sonho,
Ora a uma distância sem medida
No tempo, desfazendo-me em espanto;
E a sensação que sinto ao perceber
Que vou passando, já tem mais de horror
Que tristeza, apavora-me e confrange
E nada evoca nada a não ser o mistério
Que o Tempo tem fechado em sua mão.
Mas a dor é maior!
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