Carlos Drummond de Andrade
Carlos Drummond de Andrade foi um poeta, contista e cronista brasileiro, considerado por muitos o mais influente poeta brasileiro do século XX.
1902-10-31 Itabira do Mato Dentro, Minas Gerais, Brasil
1987-08-17 Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil
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O Céu
Na quietude da sala, em um dia qualquer,
eu conversava com Ronaldo Rogério de Freitas Mourão,
seguidor dos árabes.
O céu veio à conversa.
O espaço dilatou-se
e uma luz diferente,
vermelha, branca,
alaranjada,
pousou em nossas peles e palavras.
Senti que estava perto Betelgeuse,
e Antares e Aldebarã
ocupavam espaço incomensurável na sala restrita.
Tinha à minha frente as três Zuban
— El-Gaubi, El-Schmali, El-Ekiribi.
Nada me atraía mais do que Zamiah,
que fulgiu e sumiu deixando em seu lugar
Merope, Celaene.
Completamente banhado por Sírius e cercado pelas sete Plêiades,
já me desfizera de tudo que é superfície e cuidado e limitações
para viver entre objetos celestes.
— Procyon — exclamei, e Ronaldo apontou
para o clarão de Alumadin.
Vi Margarita, Fomalhaut, no desdobramento abissal
o desfile de corpos ambíguos, intermitentes, enigmáticos.
O céu, o infindo firmamento,
girava em função do verbo solto,
por acaso, na conversa de ignorante e de astrônomo.
eu conversava com Ronaldo Rogério de Freitas Mourão,
seguidor dos árabes.
O céu veio à conversa.
O espaço dilatou-se
e uma luz diferente,
vermelha, branca,
alaranjada,
pousou em nossas peles e palavras.
Senti que estava perto Betelgeuse,
e Antares e Aldebarã
ocupavam espaço incomensurável na sala restrita.
Tinha à minha frente as três Zuban
— El-Gaubi, El-Schmali, El-Ekiribi.
Nada me atraía mais do que Zamiah,
que fulgiu e sumiu deixando em seu lugar
Merope, Celaene.
Completamente banhado por Sírius e cercado pelas sete Plêiades,
já me desfizera de tudo que é superfície e cuidado e limitações
para viver entre objetos celestes.
— Procyon — exclamei, e Ronaldo apontou
para o clarão de Alumadin.
Vi Margarita, Fomalhaut, no desdobramento abissal
o desfile de corpos ambíguos, intermitentes, enigmáticos.
O céu, o infindo firmamento,
girava em função do verbo solto,
por acaso, na conversa de ignorante e de astrônomo.
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