Manuel Bandeira
Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho foi um poeta, crítico literário e de arte, professor de literatura e tradutor brasileiro.
1886-04-19 Recife, Pernambuco, Brasil
1968-10-13 Rio de Janeiro, Brasil
1901808
64
1775
Verdes Mares
Clama uma voz amiga: — “Aí tem o Ceará.”
E eu, que nas ondas punha a vista deslumbrada,
Olho a cidade. Ao sol chispa a areia doirada.
A bordo a faina avulta e toda a gente já
Desce. Uma moça ri, quebrando o panamá.
— “Perdi a mala!” um diz de cara acabrunhada.
Sobre as águas, arfando, uma breve jangada
Passa. Tão frágil! Deus a leve, onde ela vá.
Esmalta ao fundo a costa a verdura de um parque.
E enquanto a grita aumenta em berros e assobios
Rudes, na confusão brutal do desembarque:
Fitando a vastidão magnífica do mar,
Que ressalta e reluz: — “Verdes mares bravios...”
Cita um sujeito que jamais leu Alencar.
1908
A ROSA
À vista incerta,
Os ombros langues,
Pierrot aperta
Às mãos exangues
De encontro ao peito.
Alguma cousa
O punge ali
Que ele não ousa
Lançar de si,
O pobre doido!
Uma sombria
Rosa escarlata
Em agonia
Faz que lhe bata
O coração...
Sangrenta rosa
Que evoca a louca,
A voluptuosa,
Volúvel boca
De sua amada...
Ah, com que mágoa,
Com que desgosto
Dois fios de água
Lavam-lhe o rosto
De faces lívidas!
Da veste branca
À larga túnica
Por fim arranca
A rosa púnica
Em um soluço.
E parecia,
Jogando ao chão
A flor sombria,
Que o coração
Ele arrancara!...
E eu, que nas ondas punha a vista deslumbrada,
Olho a cidade. Ao sol chispa a areia doirada.
A bordo a faina avulta e toda a gente já
Desce. Uma moça ri, quebrando o panamá.
— “Perdi a mala!” um diz de cara acabrunhada.
Sobre as águas, arfando, uma breve jangada
Passa. Tão frágil! Deus a leve, onde ela vá.
Esmalta ao fundo a costa a verdura de um parque.
E enquanto a grita aumenta em berros e assobios
Rudes, na confusão brutal do desembarque:
Fitando a vastidão magnífica do mar,
Que ressalta e reluz: — “Verdes mares bravios...”
Cita um sujeito que jamais leu Alencar.
1908
A ROSA
À vista incerta,
Os ombros langues,
Pierrot aperta
Às mãos exangues
De encontro ao peito.
Alguma cousa
O punge ali
Que ele não ousa
Lançar de si,
O pobre doido!
Uma sombria
Rosa escarlata
Em agonia
Faz que lhe bata
O coração...
Sangrenta rosa
Que evoca a louca,
A voluptuosa,
Volúvel boca
De sua amada...
Ah, com que mágoa,
Com que desgosto
Dois fios de água
Lavam-lhe o rosto
De faces lívidas!
Da veste branca
À larga túnica
Por fim arranca
A rosa púnica
Em um soluço.
E parecia,
Jogando ao chão
A flor sombria,
Que o coração
Ele arrancara!...
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