Manuel Bandeira
Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho foi um poeta, crítico literário e de arte, professor de literatura e tradutor brasileiro.
1886-04-19 Recife, Pernambuco, Brasil
1968-10-13 Rio de Janeiro, Brasil
1933253
64
1777
À Maneira de Augusto Frederico Schmidt
I
Daqui a trezentos anos
Não existirei mais.
Outros amarão e serão amados,
Outros terão livrarias católicas,
Outros escreverão no suplemento de domingo dos jornais:
Eu não existirei mais.
Seja, não importa, Senhor!
Sou um pobre gordo.
Mas sei que eles também não serão felizes.
Eu sim, o serei então.
Quando debaixo da terra, magro, magro, só ossos,
Não existir mais.
II
Há muito o meu coração está seco,
Há muito a tristeza do abandono,
A desolação das coisas práticas
Entrou em mim, me diminuindo.
Porém de repente será talvez a contemplação
De um céu noturno como mais belo não vi,
Com estrelas de um brilho incrível,
De uma pureza incalculável, incrível.
A poesia voltará de novo ao meu coração
Como a chuva caindo na terra queimada.
Como o sol clareando a tristeza das cidades,
Das ruas, dos quintais, dos tristes e dos doentes.
A poesia voltará de novo, única solução para mim,
Única solução para o peso dos meus desenganos,
Depois de todas as soluções terem falhado:
O amor, os seguros, a água, a borracha.
A poesia voltará de novo, consoladora e boa,
Com uma frescura de mãos santas de virgem,
Com uma bondade de heroísmos terríveis,
Com uma violência de convicções inabaláveis.
Verei fugir todas as minhas amargas queixas de repente.
Tudo me parecerá de novo exato, sólido, reto,
A poesia restabelecerá em mim o equilíbrio perdido.
À poesia cairá em mim como um raio.
Daqui a trezentos anos
Não existirei mais.
Outros amarão e serão amados,
Outros terão livrarias católicas,
Outros escreverão no suplemento de domingo dos jornais:
Eu não existirei mais.
Seja, não importa, Senhor!
Sou um pobre gordo.
Mas sei que eles também não serão felizes.
Eu sim, o serei então.
Quando debaixo da terra, magro, magro, só ossos,
Não existir mais.
II
Há muito o meu coração está seco,
Há muito a tristeza do abandono,
A desolação das coisas práticas
Entrou em mim, me diminuindo.
Porém de repente será talvez a contemplação
De um céu noturno como mais belo não vi,
Com estrelas de um brilho incrível,
De uma pureza incalculável, incrível.
A poesia voltará de novo ao meu coração
Como a chuva caindo na terra queimada.
Como o sol clareando a tristeza das cidades,
Das ruas, dos quintais, dos tristes e dos doentes.
A poesia voltará de novo, única solução para mim,
Única solução para o peso dos meus desenganos,
Depois de todas as soluções terem falhado:
O amor, os seguros, a água, a borracha.
A poesia voltará de novo, consoladora e boa,
Com uma frescura de mãos santas de virgem,
Com uma bondade de heroísmos terríveis,
Com uma violência de convicções inabaláveis.
Verei fugir todas as minhas amargas queixas de repente.
Tudo me parecerá de novo exato, sólido, reto,
A poesia restabelecerá em mim o equilíbrio perdido.
À poesia cairá em mim como um raio.
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