Bocage

Bocage

Manuel Maria de Barbosa l'Hedois du Bocage foi um poeta português e, possivelmente, o maior representante do arcadismo lusitano.

1765-09-15 Setúbal
1805-12-21 Lisboa
233957
8
88


Prémios e Movimentos

Arcadismo

Alguns Poemas

Ribeirada – poema de um só canto

Argumento

Quando o preto Ribeiro entregue ao sono
Jazia, lhe aparece e deus Priapo:
E com uma das mãos por ser fanchono,
Lhe larga na cabeça do marsapo:
Oferece-lhe depois em belo cono,
Cono sem cavalete, gordo e guapo:
Casa o preto, e a mulher, por fim de contas,
Lhe põe na testa retorcidas pontas.

Canto Único

I

Ações famosas do fodaz Ribeiro,
Preto na cara, enorme no mangalho,
Eu pretendo cantar em tom grosseiro,
Se a musa me ajudar neste trabalho:
Pasme absorto escutando o mundo inteiro
A porca descrição do horrendo malho,
Que entre as pernas alberga o negro bruto
No lascivo apetite dissoluto.

II

Oh! musa galicada e fedorenta!
Tu, que às fodas de Apolo estás sujeita.
Anima a minha voz, pois hoje intenta
Cantar esse mangaz, que a tudo arreita:
Desse vaso carnal que o membro aguenta,
Onde tanta langonha se aproveita,
Um chorrilho me dá, oh musa obscena,
Que eu com rijo tesão pego na pena.

III

Em Tróia, de Setúbal bairro inculto,
Mora o preto castiço, de quem falo;
Cujo nervo é de sorte, e tem tal vulto,
Que excede o longo espeto de um cavalo:
Sem querer nos calções estar oculto,
Quando se entesa o túmido badalo,
Ora arranca os botões com fúria rija,
Ora arromba as paredes quando mija.

IV

Adorna hirsuto ríspido pentelho
Os ardentes colhões do bom Ribeiro,
Que dão duas maçãs de escaravelho,
Não digo na grandeza, mas no cheiro:
Ali piolhos ladros tão vermelho
Fazem com dente agudo o pau leiteiro,
Que o cata muita vez; mas ao tocar-lhe
Logo o membro nas mãos entra a pular-lhe.

V

Os maiores marsapos do universo
À vista deste para trás ficaram:
E o do novo Martinho em prosa e verso
Mil poetas a porra descantaram:
Quando ainda o cachorro era de berço
Umas mossas por graça lhe pegaram
Na pica já taluda, e de repente
Pelas mãos lhe correu a grossa enchente.

VI

De Polifemo o nervo dilatado,
Que intentou escachar a Galatéia,
Pelo mundo não deu tão grande brado
Como a porra do preto negra e feia:
Da cotovia o bando galicado
Com respeito mil vezes o nomeia,
E ao soberbo estardalho do selvagem
As putas todas rendem vassalagem.

VII

O longo e denso véu da noite escura
Das estrelas bordado já se via;
E em rota cama a horrenda criatura
Os tenebrosos membros estendia:
Do caralho a grandíssima estatura
Cos lençóis encobrir-se não podia,
E a cabeça do fodaz de fora pondo
Fazia sobre o chão medonho estrondo.

VIII

Os ladros, que fiéis o acompanhavam
A triste colhoada a cada instante
Com agudos ferrões lhe trespassavam,
Atormentando a besta fornicante:
Na duríssima pele se entranhavam,
Suposto que com garra penetrante
O negro dos colhões a muitos saca,
E o castigo lhes dá na fera unhaca.

IX

Tendo o cono patente no sentido
Na barriga o tesão lhe dava murros;
E de ativa luxúria enfurecido
Espalhava o cachorro aflitos urros:
Com a lembrança do vaso apetecido
O nariz encrespava como os burros;
Até que em vão berrando pelo cono,
De todo se entregou nas mãos do sono.

X

Já roncando os vizinhos acordava
O lascivo animal, que representa
Com o motim pavoroso que formava,
Trovão fero no ar, no mar tormenta;
Com alternados coices espancava
De pobre cama a roupa fedorenta,
Que pulgas esfaimadas habitavam,
E de mil cagadelas matizavam.

XI

Eis de improviso em sonhos lhe aparece
Terrífica visão, que um braço estende,
E pela grossa carne lhe cresce
Debaixo da barriga ao negro prende:
Acorda, põe-lhe os olhos, e estremece
Como quem ao terror se curva e rende:
Com o medo que tinha, a porra ingente
Se meteu nas encolhas de repente.

XII

Do tremendo fantasma a testa dura
Dois retorcidos cornos enfeitavam;
E, debaixo da pança, a mata escura
Três disformes caralhos ocupavam:
O sujo aspecto, a feia catadura,
Os rasgados olhões iluminavam;
E na terrível destra o torpe espectro
Empunhava uma porra em vez de cetro.

XIII

Ergue a voz, que as paredes abalava,
E com a força do alento sibilante
Mata a pálida luz, que a um canto estava,
Em plúmbeo castiçal agonizante:
"Oh tu, rei dos caralhos (exclamava)
Perde o medo, que mostras no semblante:
Que quem hoje te agarra no marsapo
É de Vénus o filho, o deus Priapo.

XIV

"Vendo a fome cruel do parrameiro,
Que essas negras entranhas te devora,
De putas num covil deixei ligeiro,
Por fartar-te de fodas sem demora:
Consolarás o rígido madeiro
Numa fêmea gentil, que perto mora,
Mas não lho metas todo, pois receio
Que a possas escachar de meio a meio."

XV

Disse: e o negro na cama velozmente
Para beijar-lhe os pés se levantava;
Mas tropeça num banco, e de repente
No fétido bispote as ventas crava:
Não ficando da queda mui contente
Com uma gota de mijo à pressa as lava;
E, acabada a limpeza, a voz grosseira
Ao númen dirigiu desta maneira:

XVI

"Socorro de famintos fodedores,
Propícia divindade, que me escutas!
Tu consolas, tu enches de favores
O mestre da fodenga, o pai das putas:
Viste que, do tesão curtindo as dores,
Travava com o lençol imensas lutas,
E baixaste ligeiro, como Noto,
A dar piedoso amparo ao teu devoto.

XVII

Enquanto houver tesões, e enquanto o cono
For de arreitadas picas lenitivo,
Sempre hei-de recordar-me, alto patrono,
De que és de meus gostos o motivo:
Pois me dás glória no elevado trono,
E já, como o veado fugitivo
Que o caçador persegue, eu corro, eu corro
A procurar as bordas por quem morro."

XVIII

Deteve aqui a voz o rijo acento,
Que dos trovões o estrépito parece,
E logo diante os olhos num momento
A noturna visão desaparece:
Deixa Ribeiro o sórdido aposento,
Que de antigos escarros se guarnece;
E nas tripas berrando-lhe o demônio
Corre logo a tratar do matrimônio.

XIX

O brando coração da fêmea alcança
Com finezas, carícias e desvelos;
A qual sobre a vil cara emprega, e lança
(Tentação do demônio!) os olhos belos:
O fodedor maldito não descansa
Sem ver chegar o dia, em que os marmelos
Que tem junto do cu dêem cabeçadas
Entre as cândidas virilhas delicadas.

XX

Chega o dia infeliz (triste badejo!
Mísera crica! desditoso rabo!)
E ornado o rosto de um purpúreo pejo
Une-se a mão de um anjo à do diabo;
Ardendo o bruto em férvido desejo
Unta de louro azeite o longo nabo,
Para que possa entrar com mais brandura
A vermelha cerviz faminta, e dura.

XXI

Principia o banquete, que constava
De dois gatos achados num monturo,
E de raspas de corno, de que usava
Em lugar de pimenta o preto impuro:
Em sujo frasco ali se divisava
Turva água-pé: fatias de pão duro
Pela mesa decrépita espalhadas
A fraca vida perdem às dentadas.

XXII

Depois de ter o esposo o bucho farto,
Abrasado de amor na ardente chama,
Foge com leves passos para o quarto,
Ao colo co
Poeta português natural de Setúbal, de ascendência francesa por parte da mãe. A sua vocação foi incentivada pelo ambiente familiar. Madame Fiquet du Bocage, uma tia-avó do poeta, era uma poetisa ilustre na época e traduzira o poeta suíço pré-romântico Gessner. O próprio pai de Bocage lia o pré-romântico inglês Young e cultivava a poesia nas horas vagas. Igualmente o marcou, como ele próprio o sublinhou, a morte da mãe aos dez anos de idade («Aos dois lustros a morte devorante/me roubou, terna mãe, teu doce agrado»). Frequentou a Academia Real dos Guarda-Marinhas, para onde entrou em 1783, entregando-se, mais do que aos estudos, à boémia literária da Lisboa da época, frequentando botequins, sobretudo o Nicola, do Rossio, ao qual o seu nome ficou para sempre ligado, como famoso improvisador de versos. Embarcou para Goa (1786) e serviu na guarnição de Damão (1789). Mais tarde, desertou, embarcando para Macau, e daí regressou a Lisboa em 1790, ano em que foi fundada a Nova Arcádia, na qual ingressou, adoptando o nome poético de Elmano Sadino. Dela foi expulso, em 1794, devido ao seu espírito independente, sarcástico e indisciplinado. Inquieto e atraído pela vida boémia, foi preso a 10 de Agosto de 1797, acusado de ideias contra a ordem social, expressas na «Epístola a Marília», texto anti-religioso, e no soneto dedicado a Napoleão, símbolo do ideal revolucionário da época. Julgado, apesar de tudo, com alguma benevolência, por «erro contra a religião», a Inquisição ordenou que o preso fosse «doutrinado». Obrigado, por sentença, a recolher ao Hospício das Necessidades, aí se dedicou ao estudo e à tradução de várias obras, entre as quais as Metamorfoses, de Ovídio. Saiu em liberdade em 1799, convertendo-se a uma vida mais regrada em casa da irmã, Maria Francisca, que sustentou com trabalhos de tradução. Marcado pelas atribulações do seu percurso, a sua vida terminou precocemente e com um doloroso arrependimento, patente nos seus últimos poemas. Bocage é um poeta pré-romântico em que o arcadismo ainda está bem presente. Dos seus poemas irradia o angustiado sentido da existência e do aniquilamento, expresso em oposições dramáticas (o amor, céu e inferno, a morte, horror e libertação) e o gosto pelo macabro, em simultâneo com o convencionalismo arcádico das alegorias. De entre as formas poéticas que cultivou destaca-se o soneto. Muitas vezes evocando o paralelismo entre a sua vida e a de Camões, morreu aos 40 anos, em Lisboa, deixando publicadas, em três volumes, Rimas (1791, 1799 e 1804), completadas com a publicação póstuma de novos volumes e obras sobre a sua criação poética (Poesia de Manuel Maria de Barbosa du Bocage, de Inocêncio da Silva, 1853, e Obras Poéticas de Bocage, de Teófilo Braga, 1875)
- - - - -
BOCAGE | Saiba tudo sobre o escritor (Resolução de questões FUVEST e MACKENZIE)
ARCADISMO EM PORTUGAL e a poesia de Bocage
Miguel Guilherme recita Bocage e O'Neill - LADO B
Vós Crédulos Mortais Alucinados | Poema de Bocage com narração de Mundo Dos Poemas
O Corvo E A Raposa | Poema de Bocage com narração de Mundo Dos Poemas
A Alma e a Gente - VII #31 - Bocage, Poeta da Rua - 09 Ago 2009
Poesia Erótica - Bocage
Hedgerows - the Normandy Bocage
Bocage (demo) - 2006
"A Água" de José Maria Barbosa du Bocage
Morte, Juízo, Inferno e Paraíso | Poema de Manuel Maria Barbosa Bocage narrado por Mundo Dos Poemas
Literatura - Arcadismo, Bocage e Tomás Antonio Gonzaga (2/2)
A Alma e a Gente - I #12 - Bocage, Poeta do Povo (Setúbal) - 10 Mai 2003
Herman José - Entrevista Histórica a Bocage
Liberdade | Poema de Bocage com narração de Mundo Dos Poemas
Sonho | Poema de Manuel Maria Barbosa Du Bocage com narração de Mundo Dos Poemas
Quim Barreiros - A Água (Official video)
Bocage | Literatura Portuguesa
MANUEL DU BOCAGE - MELHORES SONETOS
Piadas do BOCAGE. Literatura de cordel. Folhetos de romances de literatura de cordel. Piadas BOCAGE
A disputa de Bocage com o padre. Literatura de cordel. Bocage e padre. Literatura de cordel. Cordel.
ENEM - ARCADISMO: Tomás Antônio Gonzaga e Bocage [PORTUGUÊS]
Chiquinho - Anedota do Bocage
A garota não - Celebrar Bocage!
Le bocage
OS TIGRES DE VILLERS BOCAGE: MICHAEL WITTMAN E SEU ATAQUE MORTAL NA NORMANDIA - Viagem na Historia
O MESTRE DE CERIMÔNIA DAS MESAS REDONDAS - Sergio du Bocage | Museu da Pelada
Ep32 le bocage, c'est quoi ? / partie 1
Rolando Lero - "O que disse Bocage antes de exalar seu último suspiro"
Bocage e Setúbal
Realistic Bocage Tutorial
Sobre Bocage
Bocage, Por Detrás da História
Bocage na Rua 30 Poemas - Manuel Bola
Planter une haie bocagère - Mission Bocage
Mission Bocage, épisode 1
URUBUCAM ENTREVISTA: SERGIO DU BOCAGE
Já Bocage não sou! (Pronúncia de Portugal), de Manuel Maria Barbosa du Bocage
How to Make Cheap Bocage Terrain
Trailer do filme Bocage, o triunfo do amor 1997
Bocage 101
BOCAGE, de Fernando Vendrell
BOCAGE | O Irreverente Poeta Português
DF| Confira os comentários de Sérgio Du Bocage sobre futebol
DSNE : Bocage et Biodiversité
MANUEL MARIA DE BARBOSA DU BOCAGE
Le Bien Allé du Bocage "Introit"
Le bocage, patrimoine précieux à préserver
Praça do Bocage [Setúbal, Portugal]
Mont Saint-Michel de loin, Mortain-Bocage
Gama WNTD
Eu só sinto Borboletas a mexer cá dentro
10/junho/2021
Osama Bin Laden
Muito interessante o poema, pena que escritor vem de Portugal (à escória dos países).
30/maio/2021
Alguem que intende de história mais que você
Estude realmente a história de portugal e pare de falar besteira
30/setembro/2022
Alguem que intende mais história que você
Se você não sabe ele se converteu no leito de morte(onde ele ditou esssa poesia) e se tornou católico, coisa que a nação portuguesa é e com muito amor.
30/setembro/2022
Rei leao
Amei
26/maio/2021
fernanda
Bom dia, não é astro mas estro
17/maio/2021
hakuna batata
amei o poenma tocou o fundo do meu coração obrigada por proporcionar tamanho entretenimento para a classe operária
11/novembro/2019

Quem Gosta

Seguidores