Gonçalves Crespo

Gonçalves Crespo

António Cândido Gonçalves Crespo foi um jurista e poeta de influência parnasiana, membro das tertúlias intelectuais portuguesas do último quartel do século XIX.

1846-03-11 Rio de Janeiro, Brasil
1883-06-11 Lisboa
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Prémios e Movimentos

Parnasianismo

Alguns Poemas

Ao Rabequista Eugênio Dégremont

Recitada na noite de 25 de fevereiro de 1877 no Teatro de
S.João do Porto


Vede-o! É tão criança! ó mães, olhai-o!
Como é vivo o fulgor e ardente o raio
Que vibra nesse olhar!
Faz gosto vê-lo assim tão pequenino
Enlevado nos sons do violino
A sonhar, a sonhar...

E ao passo que a sua alma vai sonhando,
Vão-se ante nossos olhos desdobrando
Quadros a mil e mil.
A rabeca suspira? Assim amenas
São na longínqua roça as cantilenas
Das moças do Brasil.

Vibram ríspidos sons? E logo ouvimos
Curvar o vento da floresta os cimos
Com ruidoso fragor...
E uivam pintadas onças e as araras
Roçam, fugindo, as trêmulas taquaras.
E crocita o condor.

Enterrados nas úmidas pastagens
Mugem raivosos búfalos selvagens,
E por entre os sarçais
Pula a pantera; os jacarés astutos
Choram, fingindo lacrimosos lutos
Nos fulvos areais.

Soluçou a rabeca? Ouvi, formosas,
São os negros soltando as lastimosas
Canções do seu país;
Sem família, sem pátria, sem amores,
Ninguém mitiga o fel daquelas dores,
Triste raça infeliz!

Agora, como em namorado anseio,
Sai da rabeca um lânguido gorjeio
Que enleva o coração.
E a saudade repinta-nos ao vivo
Dos sabiás o cântico lascivo
Nas sombras do sertão.

Tudo isso e mais eu vejo, admiro e escuto,
Com meu olhar de prantos não enxuto,
Ó criança gentil,
Que em vez de perseguir as borboletas
Vens batalhar no meio dos atletas
E honrar o teu Brasil!

Não presumas, porém, prodígio das crianças!
Que basta o fogo, o estro, a viva inspiração;
É mister trabalhar, sem isso nada alcanças;
A glória chamarás, ser-te-á o apelo em vão.

Pois que! tu cuidarás, criança, porventura
Que sem lutar, sofrer, sem hórridos tormentos
O artista poderia erguer aos quatro ventos
A Epopéia, o Drama, a Estátua, a Partitura?

Vamos, trabalha pois, ó meu precoce artista,
Dos precipícios ri, vinga-me o barrocal!
Para o profundo azul estende a larga vista.
Eis-te nos alcantis! Eleva-te ao ideal!

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Publicado no livro Noturnos (1882).

In: CRESPO, Gonçalves. Obras completas. Pref. Afrânio Peixoto. Rio de Janeiro: Livros de Portugal, 194

O Minuete

Espaçoso é o salão: jarras a cada canto;
Admira-se o lavor do tecto de pau santo.

Cadeiras de espaldar corri fulvas pregarias:
Um enorme sofá: largas tapeçarias.

O purpúreo tapete aos olhos nos revela
Entre as garras de um tigre ansiosa uma gazela.

Retratos em redor: olhemos o primeiro:
No Toro as mãos de Afonso o armaram cavaleiro.

Era arcebispo aquele: esta foi açafata:
Que frescura sensual nos lábios de escarlata!

Olhos revendo o azul que sobre a Itália assoma:
Em finos caracóis, a loura e ondada coma:

Colo robusto e nu: cabeça triunfante:
Consta que certo rei... passemos adiantei

Este que vês, morreu num africano areal
Por vingança cruel do áspero Pombal.

Desse olhar na expressão infinda e inenarrável
Desabrocha uma dor profunda e inconsolável.

Defronte, uma donzela, o rosto meigo e aflito,
Num êxtasis adora o pálido proscrito.

O teu sonho nupcial, franzina morgadinha,
Tão cedo se desfez, ó mísera e mesquinha!

No burel escondeste o viço e a formosura,
E desmaiaste, flor, no chão de uma clausura!...

Repara nos desdéns do fofo conselheiro,
Que sorridente aspira a flor de um jasmineiro!

Em cânones doutor: no paço foi benquisto:
Orna-lhe o peito a cruz de um hábito de Cristo.

Esse outro combatendo às portas de Baiona,
Como um bravo, alcançou a rútila dragona.

Vibra flamas o olhar; cabeça ereta e audaz;
Ilumina-lhe o rosto a glória de um gilvaz.

Assistimos, ao vê-lo, às pugnas carniceiras,
E ouvimos o clangor das músicas guerreiras...

No antiquíssimo espelho, à sombra das cortinas,
Reflete-se o primor de argênteas serpentinas.

Sob o espelho se aninha um cravo marchetado,
Mimo outrora da casa, e prenda de um noivado.

Ao lado um cofre encerra, em amorável ninho,
Antiga partitura em velho pergaminho.

Uma noite estendi a música na estante,
E o cravo suspirou... naquele mesmo instante

Da ebúrnea palidez doentia do teclado
Manso e manso evolou-se o aroma do passado.

E vi descer do quadro a lânguida açafata
Que, ao discreto palor das lâmpadas de prata,

A fímbria alevantando azul do seu vestido,
O rosto acerejado, o gesto comovido,

A sorrir, deslizou graciosa no tapete,
Dançando airosamente o airoso minuete...

As Velhas Negras

As velhas negras, coitadas,
Ao longe estão assentadas
Do batuque folgazão.
Pulam crioulas faceiras
Em derredor das fogueiras
E das pipas de alcatrão.

Na floresta rumorosa
Esparge a lua formosa
A clara luz tropical.
Tremeluzem pirilampos
No verde-escuro dos campos
E nos côncavos do val.

Que noite de paz! que noite!
Não se ouve o estalar do açoite,
Nem as pragas do feitor!
E as pobres negras, coitadas,
Pendem as frontes cansadas
Num letárgico torpor!

E cismam: outrora, e dantes
Havia também descantes,
E o tempo era tão feliz!
Ai! que profunda saudade
Da vida, da mocidade
Nas matas do seu país!

E ante o seu olhar vazio
De esperanças, frio, frio
Como um véu de viuvez,
Ressurge e chora o passado
— Pobre ninho abandonado
Que a neve alagou, desfez... —

E pensam nos seus amores
Efêmeros como as flores
Que o sol queima no sertão...
Os filhos quando crescidos,
Foram levados, vendidos,
E ninguém sabe onde estão.

Conheceram muito dono:
Embalaram tanto sono
De tanta sinhá gentil!
Foram mucambas amadas,
E agora inúteis, curvadas.
Numa velhice imbecil!

No entanto o luar de prata
Envolve a colina e a mata
E os cafezais em redor!
E os negros mostrando os dentes,
Saltam lépidos, contentes,
No batuque estrugidor.

No espaçoso e amplo terreiro
A filha do Fazendeiro,
A sinhá sentimental,
Ouve um primo recém-vindo,
Que lhe narra o poema infindo
Das noites de Portugal.

E ela avista, entre sorrisos,
De uns longínquos paraísos
A tentadora visão...
No entanto as velhas, coitadas,
Cismam ao longe assentadas
Do batuque folgazão...

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Publicado no livro Noturnos (1882).

In: CRESPO, Gonçalves. Obras completas. Pref. Afrânio Peixoto. Rio de Janeiro: Livros de Portugal, 194
Poeta, tradutor e deputado português, nascido no Brasil. Filho de um comerciante português e de uma mestiça brasileira, veio para Portugal com catorze anos de idade. Estudou na Universidade de Coimbra, onde se formou em Direito, em 1875. Foi considerado o introdutor do parnasianismo em Portugal, colaborando na publicação A Folha, instrumento divulgador do ideal estético daquele movimento. Assinou artigos em vários jornais e participou no salão da escritora Maria Amália Vaz de Carvalho, com quem casaria mais tarde. Aqui aproveitou para se dar a conhecer nos meios mundanos das letras e da política, abrindo-se-lhe as portas para uma carreira de deputado. A sua poesia revela influências dos poetas franceses (Théophile Gautier, Leconte de Lisle, Sully Prudhomme, Verlaine, Mallarmé e Baudelaire), sendo marcada pelo uso de descrições realistas e exactas e uma extrema preocupação a nível estilístico. Em alguns dos seus poemas a influência parnasiana coabita com certos lugares comuns ultra-românticos (tema, figuras históricas e acontecimentos contemporâneos). Gonçalves Crespo cantou as saudades do Brasil e da mãe, que se manteve por lá, em poemas doridos e angustiados, como o soneto «Mater dolorosa», mas cantou também o mar e os grandes feitos dos navegadores portugueses em Camoniana. Publicou dois livros de poemas, Miniaturas (1871) e Nocturnos (1872), que se encontram reunidos nas Obras Completas (1897) do autor, com prefácio de Teixeira de Queirós e Maria Amália Vaz de Carvalho.
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Gonçalves Crespo - ALGUÉM - Coisas que o tempo levou
Luiz Cláudio - MUCAMA - Gonçalves Crespo - gravação de 1973
Gonçalves Crespo - Na roça
Mestiça (Mucama) (Gonçalves Crespo), por Grupo Mucama
Gonçalves Crespo
Gonçalves Crespo, O Juramento do Árabe
Goncalves Crespo, o Poeta, por Casimiro de Brito
Geraldo Magalhães - MULATA - Gonçalves Crespo - Nicolino Milano - Odeon R 40.568 - ano de 1906
Luiz Claudio interpreta a modinha Mucama; autoria Gonçalves Crespo
António Cândido Gonçalves Crespo
Amor (Poema), de Gonçalves Crespo
Olga Praguer Coelho - MULATA - Gonçalves Crespo - adapt. Olga Praguer Coelho - Victor 34.325-A
Madrigal Renascentista - ACORDA MINHA BELEZA - MUCAMA - Gonçalves Crespo
A MULATA (Gonçalves Crespo) Bahiano | Piano | 1903
"ALGUÉM", Gonçalves Crespo - Soares Teixeira
Antonio Candido Gonçalves Crespo - Mater-dolorosa
Gonçalves Crespo - Na Aldeia
MUCAMA - Gonçalves Crespo - Coisas que o tempo levou
Aos alunos da Gonçalves Crespo
A MULATA (Nicolino Milano, Gonçalves Crespo) Luiz de Oliveira | 1909
Declamação MATER DOLOROSA de Gonçalves Crespo (Rio de Janeiro, Brasil 1846-Lisboa, Portugal, 1883)
Alguem de Gonçalves Crespo
Na Roça (Poema), de Gonçalves Crespo
Gonçalves Crespo (Poema), de Machado de Assis
Odor di femina (Poema), de Gonçalves Crespo
Na Aldeia (Poema), de Gonçalves Crespo
MARTA ROML | Poemando #88: João Penha e Gonçalves Crespo
A MULATA (Gonçalves Crespo e Nicolino Milano) Geraldo Magalhães | Piano | 1906
Artigo inédito de Gonçalves Crespo. Original pertence ao Dr. Mauro Márcio de Paula Rosa
T3 Gonçalves Crespo
O Velhinho (Poema), de Gonçalves Crespo
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Hora da Poesia - Gonçalves Crespo *planoclaro.com
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#3 Winning Eleven ML GONCALVES (CRESPO O HEROI??)
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Rua Gonçalves Crespo
#2 Winning Eleven ML GONCALVES (CRESPO O MATADOR)
Rua Gonçalves crespo 85
Apto reformado (R.Gonçalves Crespo).
Rua Gonçalves Crespo ()tijuca)

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