Machado de Assis

Machado de Assis

Joaquim Maria Machado de Assis foi um escritor brasileiro, amplamente considerado como o maior nome da literatura nacional.

1839-06-21 Rio de Janeiro, Brasil
1908-09-29 Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil
182859
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114


Prémios e Movimentos

Romantismo

Alguns Poemas

Pássaros

Je veux changer mes pensées en oiseaux.
C. MAROT

Olha como, cortando os leves ares,
Passam do vale ao monte as andorinhas;
Vão pousar na verdura dos palmares,
Que, à tarde, cobre transparente véu;
Voam também como essas avezinhas
Meus sombrios, meus tristes pensamentos;
Zombam da fúria dos contrários ventos,
Fogem da terra, acercam-se do céu.

Porque o céu é também aquela estância
Onde respira a doce criatura,
Filha do nosso amor, sonho da infância,
Pensamento dos dias juvenis.
Lá, como esquiva flor, formosa e pura,
Vives tu escondida entre a folhagem,
Ó rainha do ermo, ó fresca imagem
Dos meus sonhos de amor calmo e feliz!

Vão para aquela estância enamorados,
Os pensamentos de minh'alma ansiosa;
Vão contar-lhe os meus dias gozados
E estas noites de lágrimas e dor.

Na tua fronte pousarão, mimosa,
Como as aves no cimo da palmeira,
Dizendo aos ecos a canção primeira
De um livro escrito pela mão do amor.

Dirão também como conservo ainda
No fundo de minh'alma essa lembrança
De tua imagem vaporosa e linda,
Único alento que me prende aqui.

E dirão mais que estrelas de esperança
Enchem a escuridão das noites minhas.
Como sobem ao monte as andorinhas,
Meus pensamentos voam para ti.


Publicado no livro Falenas: Vária, Lira Chinesa, Uma Ode a Anacreonte, Pálida Elvira (1870). Poema integrante da série Vária.

In: ASSIS, Machado de. Obra completa. Org. Afrânio Coutinho. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994 v.3, p.51-52. (Biblioteca luso-brasileira. Série brasileira

Regras para Uso dos que Freqüentam Bonds

OCORREU-ME compor umas certas regras para uso dos que freqüentam bonds. O desenvolvimento que tem sido entre nós esse meio de locomoção, essencialmente democrático, exige que ele não seja deixado ao puro capricho dos passageiros. Não posso dar aqui mais do que alguns extratos do meu trabalho; basta saber que tem nada menos de setenta artigos. Vão apenas dez.

Art. I – Dos encatarroados

Os encatarroados podem entrar nos bonds com a condição de não tossirem mais de três vezes dentro de uma hora, e no caso de pigarro, quatro.

Quando a tosse for tão teimosa, que não permita esta limitação, os encatarroados têm dois alvitres: - ou irem a pé, que é bom exercício, ou meterem-se na cama. Também podem ir tossir para o diabo que os carregue.

Os encatarroados que estiverem nas extremidades dos bancos, devem escarrar para o lado da rua, em vez de o fazerem no próprio bond, salvo caso de aposta, preceito religioso ou maçônico, vocação, etc., etc.

Art. II – Da posição das pernas

As pernas devem trazer-se de modo que não constranjam os passageiros do mesmo banco. Não se proíbem formalmente as pernas abertas, mas com a condição de pagar os outros lugares, e fazê-los ocupar por meninas pobres ou viúvas desvalidas, mediante uma pequena gratificação.

Art. III – Da leitura dos jornais

Cada vez que um passageiro abrir a folha que estiver lendo, terá o cuidado de não roçar as ventas dos vizinhos, nem levar-lhes os chapéus. Também não é bonito encostá-los no passageiro da frente.

Art. IV – Dos quebra-queixos

É permitido o uso dos quebra-queixos em duas circunstâncias: – a primeira quando não for ninguém no bond, e a segunda ao descer.

Art. V – Dos amoladores

Toda a pessoa que sentir necessidade de contar os seus negócios íntimos, sem interesse para ninguém, deve primeiro indagar do passageiro escolhido para uma tal confidência, se ele é assaz cristão e resignado. No caso afirmativo, perguntar-se-lhe-á se prefere a narração ou uma descarga de pontapés. Sendo provável que ele prefira os pontapés, a pessoa deve imediatamente pespegá-los. No caso aliás extraordinário e quase absurdo, de que o passageiro prefira a nar-r3ção, o proponente deve fazê-lo minuciosamente, carregando muito nas circunstâncias mais triviais, repetindo os ditos, pisando e repisando as coisas, de modo que o paciente jure aos seus deuses não cair em outra.

Art. VI – Dos perdigotos

Reserva-se o banco da frente para a emissão dos perdigotos, salvo nas ocasiões em que a chuva obriga a mudar a posição do banco. Também podem emitir-se na plataforma de trás, indo o passageiro ao pé do condutor, e a cara para a rua.

Art. VII – Das conversas

Quando duas pessoas, sentadas a distância, quiserem dizer alguma coisa em voz alta, terão cuidado de não gastar mais de quinze ou vinte palavras, e, em todo caso, sem alusões maliciosas, principalmente se houver senhoras.

Art. VIII – Das pessoas com morrinha

As pessoas que tiverem morrinha, podem participar dos bonds indiretamente: ficando na calçada, e vendo-os passar de um lado para outro. Será melhor que morem em rua por onde eles passem, porque então podem vê-los mesmo da janela.

Art. IX – Da passagem às senhoras

Quando alguma senhora entrar o passageiro da ponta deve levantar-se e dar passagem, não só porque é incômodo para ele ficar sentado, apertando as pernas, como porque é uma grande má-criação.

Art. X – Do pagamento

Quando o passageiro estiver ao pé de um conhecido, e, ao vir o condutor receber as passagens, notar que o conhecido procura o dinheiro com certa vagareza ou dificuldade, deve imediatamente pagar por ele: é evidente que, se ele quisesse pagar, teria tirado o dinheiro mais depressa.


ASSIS, Machado de. Obra completa. Organização de Afrânio Coutinho. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994. v. 3. p. 414-416. (Biblioteca luso-brasileira. Série brasileira).
NOTAS: Quebra-queixos. Neste caso, charutos ou cigarros ordinários. Pespegá-los. Dá-los com violência. Morrinha. Mau-cheiro ou sarna
Machado de Assis (Rio de Janeiro RJ, 1839-1908) começou a trabalhar aos 16 anos, como tipógrafo aprendiz da Imprensa Nacional. Aos 18, entrou na tipografia de Paula Brito, que publicava o jornal A Marmota Fluminense, onde saiu seu primeiro poema, Ela, em 1855. Nos anos seguintes trabalhou como cronista, crítico literário e teatral de vários jornais, entre eles Correio Mercantil, Ilustração Brasileira, Gazeta de Notícias. Seu primeiro livro de poemas, Crisálidas, foi publicado em 1864. Em 1873, foi nomeado primeiro oficial da Secretaria de Estado do Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas; a partir de então teve, como servidor público, uma carreira que lhe deu estabilidade financeira e lhe permitiu dedicar-se mais às atividades de escritor. Em 1897 foi eleito o primeiro presidente da Academia Brasileira de Letras, da qual foi um dos fundadores. A poesia de Machado de Assis, considerado o maior romancista brasileiro, é de temática amorosa e, no livro Americanas, Nacionalista. Seus versos dos primeiros livros, Crisálidas e Falenas (1870), revelam a influência de padrões românticos; já em sua fase realista, o autor produziu sonetos parnasianos, nos quais se destacam a preocupação formal, revelada por versos bem metrificados e rimados, e o apuro da linguagem, que passa a expressar o o famoso “pessimismo machadiano”.
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lindo lindo, isso e que e um poeta!!!!:
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lindo adorei!!!
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Uma preciosidade!
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