Manuel Alegre

Manuel Alegre

Manuel Alegre de Melo Duarte é um escritor e político português.

1936-05-12 Águeda
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Prémios e Movimentos

Camões 2017APE 1998

Alguns Poemas

Lusíada Exilado

Nem batalhas nem paz: obscura guerra.
Dói-me um país neste país que levo.
Sou este povo que a si mesmo se desterra
meu nome são três sílabas de trevo.

Há nevoeiro em mim. Dentro de abril dezembro.
Quem nunca fui é um grito na memória.
E há um naufrágio em mim se de quem fui me lembro
há uma história por contar na minha história.

Trago no rosto a marca do chicote.
Cicatrizes as minha condecorações.
Nas minhas mãos é que é verdade D. Quixote
trago na boca um verso de Camões.

Sou este camponês que foi ao mar
lavrou as ondas e mondou a espuma
e andou achando como a vindimar
terra plantada sobre o vento e a bruma.

Sou este marinheiro que ficou em terra
lavrando a mágoa como se lavrar
não fosse mais do que a perdida guerra
entre o não ser na terra e o ser no mar.

Eu que parti e que fiquei sempre presente
eu que tudo mandava e nunca fui senhor
eu que ficando estive sempre ausente
eu que fui marinheiro sendo lavrador.

Eu que fiz Portugal e que o perdi
em cada porto onde plantei o meu sinal.
Eu que fui descobrir e nunca descobri
que o porto por achar ficava em Portugal.

Eu que matei roubei eu que não minto
se vos disser que fui pirata e ladrão.
Eu que fui como Fernão Mendes Pinto
o diabo e o deus da minha peregrinação.

Eu que só tive restos e migalhas
e vi cobiça onde diziam haver fé.
Eu que reguei de sangue os campos das batalhas
onde morria sem saber porquê.

Eu que fundei Lisboa e ando a perdê-la em cada
viagem. (Pátria-Penélope bordando à espera.)
Eu que já fui Ulisses. (Ai do lusíada:
roubaram-lhe Lisboa e a primavera.)

Eu que trago no corpo a marca do chicote
eu que trago na boca um verso de Camões
eu é que sou capaz de ser o D. Quixote
que nunca mais confunda moinhos e ladrões.

Eu que fiz tudo e nunca tive nada
eu que trago nas mãos o meu país
eu que sou esta árvore arrancada
este lusíada sem pátria em Paris.

Eu que não tenho o mar nem Portugal.
(E foi meu sangue o vinho meu suor o pão.)
Eu que só tenho as lágrimas de sal
que me deixou el-rei Sebastião.

Lusíada exilado. (E em Portugal: muralhas.)
Se eu agora morresse sabia por quê.
Venham tormentas e punhais. Quero batalhas.
Eu que sou Portugal quero viver de pé.

Trova do vento que passa

Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.

Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das águas
e os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas.

Levam sonhos deixam mágoas
ai rios do meu país
minha pátria à flor das águas
para onde vais? Ninguém diz.

Se o verde trevo desfolhas
pede notícias e diz
ao trevo de quatro folhas
que morro por meu país.

Pergunto à gente que passa
por que vai de olhos no chão.
Silêncio - é tudo o que tem
quem vive na servidão.

Vi florir os verdes ramos
direitos e ao céu voltados.
E a quem gosta de ter amos
vi sempre os ombros curvados.

E o vento não me diz nada
ninguém diz nada de novo.
Vi minha pátria pregada
nos braços em cruz do povo.

Vi minha pátria na margem
dos rios que vão pró mar
como quem ama a viagem
mas tem sempre de ficar.

Vi navios a partir
(minha pátria à flor das águas)
vi minha pátria florir
(verdes folhas verdes mágoas).

Há quem te queira ignorada
e fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
nos braços negros da fome.

E o vento não me diz nada
só o silêncio persiste.
Vi minha pátria parada
à beira de um rio triste.

Ninguém diz nada de novo
se notícias vou pedindo
nas mãos vazias do povo
vi minha pátria florindo.

E a noite cresce por dentro
dos homens do meu país.
Peço notícias ao vento
e o vento nada me diz.

Quatro folhas tem o trevo
liberdade quatro sílabas.
Não sabem ler é verdade
aqueles pra quem eu escrevo.

Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.

Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.

Poeta e político português, natural de Águeda. Frequentou a Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, onde fundou o CITAC (Centro de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra) e participou no TEUC (Teatro de Estudantes da Universidade de Coimbra). Em 1962, alvo de mobilização pelo exército português, foi enviado para Angola. Aí, dirigiu uma tentativa de revolta militar contra a guerra colonial, pelo que foi preso pela PIDE e encarcerado em Luanda. Regressou a Portugal em 1964, sendo-lhe fixada residência em Coimbra e proibida a actividade política, que prosseguiu na clandestinidade e dentro do movimento estudantil. Partiu para o exílio em Paris e, em seguida, dirigiu em Argel a FPLN e a Rádio Voz da Liberdade. Regressou a Portugal após a revolução de 25 de Abril de 1974, época a partir da qual se envolveu na actividade política partidária, aderindo ao Partido Socialista. Eleito deputado em todas as eleições legislativas, é vice-presidente da Assembleia da República. Ocupou ainda os cargos de secretário de estado adjunto do primeiro-ministro, secretário de Estado da Comunicação Social e presidente da Comissão Parlamentar dos Negócios Estrangeiros, entre outros. Foi ainda director dos Serviços Criativos e Culturais da RDP e fundador dos Centros Populares 25 de Abril. No campo literário, colaborou na revista Vértice (Coimbra, 1963-1965). Na sua poesia estão presentes esforços de contestação e luta, as memórias do exílio e a temática da guerra colonial. A sua obra poética engloba Praça da Canção (1965, a sua primeira obra), O Canto e as Armas (1967), Rua de Baixo (1990), Com que Pena — Vinte Poemas Para Camões (1992), Sonetos do Obscuro Quê (1993), Coimbra Nunca Vista (1995), Trinta Anos de Poesia (1995), Senhora das Tempestades (1998, Prémio da Crítica, atribuído pelo Centro Português da Associação Internacional dos Críticos Literários e Grande Prémio de Poesia APE-CTT) e Obra Poética (1999, colectânea de poesia). As suas obras de ficção e memórias são Jornada de África (1989), O Homem do País Azul (1989), Alma (1995) e A Terceira Rosa (1998). Em 1997, foi ainda editado Contra a Corrente. Discursos e Textos Políticos. O seu primeiro livro para crianças, intitulado As Naus de Verde Pinho (1997), foi distinguido com o Prémio António Botto 97 de Literatura Infantil. Muitos dos poemas de Manuel Alegre foram musicados e cantados por figuras da música portuguesa, com destaque para Trova do Vento que Passa, que se tornou um hino da resistência anti-fascista. Em 1999, o escritor foi distinguido, em Veneza, com a medalha da cidade italiana. A homenagem coincidiu com o lançamento, em Itália, de L'Uomo del Paese Azzuro ( O Homem do País Azul). Ainda em 1999 recebeu o Prémio Pessoa 99, o maior prémio nacional destinado à área da ciência e da cultura e o Prémio Fernando Namora pela obra A Terceira Rosa. Manuel Alegre foi condecorado por Mário Soares com a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade, com a comenda da Ordem de Isabel a Católica e foi o primeiro a receber o Diploma de Membro Honorário do Conselho da Europa. Em Junho de 2000, Manuel Alegre abandonou Partido Socialista. Em Fevereiro de 2001, Alegre lançou o Livro do Português Errante, uma obra que manifesta o inconformismo e a luta por ideais que dignifiquem o ser
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Só queria também escrever poemas com este senhor, é um ídolo!
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Sou fã e acompanho o trabalho. Um forte abraço!
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lindo poema
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Amigo meu de infância, bons tempos passados juntos. O teu amor de infância
12/março/2020
Pedro Albricoque
Este senhor era meu vizinho . Muito mal criado, festas até longas horas e tinha 5 mulheres ao mesmo tempo . Invejo .
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