Evelin Steidel

Evelin Steidel

Advogada de profissão, mas com alma sensível ao belo, encontro na arte — seja em palavras, imagens ou traços — um caminho natural de expressão. Entre a lógica do Direito e a intuição da criação, transito com leveza por fotografias, pinturas, desenhos e poemas, onde silêncios também ganham voz.

1988-11-12
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Alguns Poemas

Pai, sou eu a Nação

Pai, eu sou a Nação.
Tua filha em suplicação.
Meus joelhos tocam o chão —
não só por fé ou oração,
mas porque me derrubaram,
me fizeram cair na mais dura solidão.

E os meus filhos,
meus próprios filhos, Pai,
todos sofrem,
de um lado e do outro,
seguindo sombras em multidão,

Uns têm fome de ordem, outros de pão,
gritam verdades olhando para o chão,
mas seguem cegos, 
em um banquete de medo, não de razão.

Sou feita de braços partidos e esperas em vão.
E cada passo que tento,
vem mais um tropeço,
mais uma imposição.

O pai dos pobres, se julga herói.
Fala como se falasse por todos nós, 
cala o povo e queima o futuro,
age sem freio, sem medo, seguro,
do alto da torre onde mora blindado,
com exército próprio — seu erro, amparado.
Distante da luta, do chão marcado,
promete o céu, mas vende o pecado.

E o outro, com voz de perdão,
julga em nome da luz, mas carrega a escuridão.
Ergue a mão como guia, mas deixa cicatriz — diz salvar o povo, rasgando a raiz.
Investiga, julga e executa,
fez da justiça inquisição absoluta,
sem freio, sem graça, sem escuta,
onde o contraditório já não se computa.

Pai, a balança perdeu seu lugar,
e só o martelo quer pesar.
Quem pensa, quem questiona Pai, vira ameaça,
executado em plena praça.
Pai, vivemos um feudo travestido de nação,
com templos de opressão e impostos em cada refeição.
O que dizia servir, hoje exige submissão — ergue muralhas, lucra com a servidão.

Pai, quem governa não serve,
quem julga não ouve,
quem pensa é visto
como inimigo da própria nação.

Pão e circo, miragem que embota a visão,
liberdade vendida por uma migalha, ilusão.
Como prisioneiro da caverna a contemplar,
prefere as sombras a verdade enfrentar.

Não é bem ou mal, é manipulação,
direita e esquerda, braços da mesma nação — só há ruína quando falta sua espinha.

Pai,
essa soberba subiu alto demais,
tua filha sangra, e eles brindam mais e mais.
A liberdade se esconde, será que não quer mais existir?
a opressão domina, e a corrupção faz ferir.
Meus filhos aplaudem, uns em silêncio e agonia,
outros cegos à tirania que devora o dia.

Pai,
se ainda há tempo,
desperta teus filhos do encantamento.
Faz cair as máscaras da razão vendida,
da promessa repetida,
da justiça corrompida.

Mostra a eles que não há herói onde há opressor,
que a verdade precisa de debate,
não de favor.

Ensina, Pai,
que nenhuma nação sobrevive
com um rei travestido de salvador.

Pai,
Eu sou tua filha,
sou tua Nação que te clama,
ainda em pé,
ainda com chama.

Ergue tua mão, Pai,
toca este chão,
antes que irmãos com sangue lavem esta nação.

Faz brilhar, Pai, o sol da liberdade,
em raios de paz e verdade,
limpa o céu das nuvens de tempestade,
e que, em no seio da minha pátria amada,
renasça como sol a esperança dourada.

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