Eduardo Becher

Eduardo Becher

Curitiba, Brasil. Lirista dos próprios sentimentos.

2000-11-15
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O Filho Que Não Tive

Rostos cobertos em paralelo
nos bancos vazios de uma praça
fechada, passos de quem passa
arrastando o sapato ou o chinelo
no chão, refletindo a tarde nublada.

Eu olho para baixo e enxergo o grão
de gente crescendo na terra molhada,
aumenta-se a paixão espraiada
cujo o motor é sempre a vazão
da dualidade deflorada.

Sinto o ar e contorno com as mãos
um corpo que nunca segurei
e os olhos que nunca me olharam.

Sigo o desfalque dos artesãos
ao pensar que sequer beijei
a pele pura dos que restaram.

Meus ares são elipses vazias
achatando os átomos restantes
- tornando-se nada em instantes -
das partes que viram os dias.

O que me move é a alma infante
sem ciência do tempo, sol ou lua,
presente e, ainda assim, distante
da vida, do campo ou da rua.
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