Da materialidade e contracaminhos tais
Por ser material
caiba-lhe sempre a feição
de permitir-se à unidade
em toda relacão
pois não tenha a idéia,
antecedencia ou trato
de permitir-se uma razão
antes de qualquer fato
e cada caminho bruto
de verdades condizentes
constrói uma razão adrede
no peito desses viventes
como se fora vazão
dos fatos todos da gente
fora de nós, constantemente,
há uma vida inteira
que não depende de mais
para ser brasileira
ou material coisa que tanta
de unidade escorreita
a unidade da vida
é manifesta e precisa
os fatos que lhe conferem
essa feição objetiva
dizem das coisas dos homens
da natureza e da lida
que liga tudo a tudo
e por tudo se explica
e desse tanto monismo
que subverte a natureza
há um só movimento
que lhe declara a presteza
dessa unidade profunda
entre o homem e a certeza
pois por ser material,
um e tão multitudinário
tenha-se permitido à razão
de parecer-se contrário
uno, permita-se vário
em transeunte mudança
como se muda a tristeza
numa nesga de esperança
quando a emoção se afasta
pelas vias da lembrança
e esse pensar adrede
que vem dos laboratórios
e que se espraia nos homens
em escassos circunlóquios
revela o retrato do mundo
e todos os seus transitórios
e pensa o homem o fato
a partir de um fato suposto
mas que sempre tem na base
a material e seu contorno
ou a sua qualidade
de parecer-se avulsa
criando no pensamento
uma pretensa repulsa
como se não fora da matéria
a razão por que a usa
a matéria, enfim, é categoria
de filosófica urdidura
que diz tudo que ao homem
lhe denota a compostura
de ser um vivente sujeito
objeto da transformação
de saber que é material
o palmo de sua mão
e que até o sorriso
que o futuro lhe demonstra
é uma matéria urdida
com a fluidez das demandas
e a desfaçatez quase lúdica
da construção das lembranças.