Marina Colasanti

Marina Colasanti

Marina Colasanti é uma escritora e jornalista ítalo-brasileira nascida na então colônia italiana da Eritreia.Viveu sua infância na Líbia e então voltou à Itália onde viveu onze anos.

1937-09-26 Asmara, Eritreia
524595
64
727


Alguns Poemas

Eu sei, mas não devia

Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.

A gente se acostuma a morar em apartamento de fundos e a não ter outra vista que não seja as janelas ao redor.
E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora.
E porque não olha para fora logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas.
E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma acender mais cedo a luz.
E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora.
A tomar café correndo porque está atrasado.
A ler jornal no ônibus porque não pode perder tempo da viagem.
A comer sanduíche porque não dá pra almoçar.
A sair do trabalho porque já é noite.
A cochilar no ônibus porque está cansado.
A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra.
E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja número para os mortos.
E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir.
A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta.
A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita.
E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar.
E a ganhar menos do que precisa.
E a fazer filas para pagar.
E a pagar mais do que as coisas valem.
E a saber que cada vez pagará mais.
E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e a ver cartazes.
A abrir as revistas e a ver anúncios.
A ligar a televisão e a ver comerciais.
A ir ao cinema e engolir publicidade.
A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição.
As salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro.
À luz artificial de ligeiro tremor.
Ao choque que os olhos levam na luz natural.
Às bactérias da água potável.
À contaminação da água do mar.
À lenta morte dos rios.
Se acostuma a não ouvir o passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.

A gente se acostuma a coisas demais para não sofrer.
Em doses pequenas, tentando não perceber, vai se afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá.
Se o cinema está cheio a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço.
Se a praia está contaminada a gente só molha os pés e sua no resto do corpo.
Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana.
E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele.
Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se da faca e da baioneta, para poupar o peito.
A gente se acostuma para poupar a vida que aos poucos se gasta e, que gasta, de tanto acostumar, se perde de si mesma.

1972
Marina Colasanti (Asmara (Etiópia), 1937) chegou ao Brasil em 1948, e sua família se radicou no Rio de Janeiro. Entre 1952 e 1956 estudou pintura com Catarina Baratelle; em 1958 já participava de vários salões de artes plásticas, como o III Salão de Arte Moderna. Nos anos seguintes, atuou como colaboradora de periódicos, apresentadora de televisão e roteirista. Em 1968, foi lançado seu primeiro livro, Eu Sozinha; de lá para cá, publicaria mais de 30 obras, entre literatura infantil e adulta. Seu primeiro livro de poesia, Cada Bicho seu Capricho, saiu em 1992. Em 1994 ganhou o Prêmio Jabuti de Poesia, por Rota de Colisão (1993), e o Prêmio Jabuti Infantil ou Juvenil, por Ana Z Aonde Vai Você?. Suas crônicas estão reunidas em vários livros, dentre os quais Eu Sei, mas não Devia (1992). Nelas, a autora reflete, a partir de fatos cotidianos, sobre a situação feminina, o amor, a arte, os problemas sociais brasileiros, sempre com aguçada sensibilidade.
- - - -
Affonso Romano de Sant'Anna e Marina Colasanti - 58° Feira do Livro de Porto Alegre
ÁGUA ACIMA, miniconto do livro Hora de alimentar serpentes, por Marina Colasanti
Li
Pesadíssimo haha
14/maio/2021
Marcela Nascimento
Esse texto não é poema. É um texto em prosa.
06/novembro/2020
maria2020
Amo muito essa escritora mas confesso que nunca sonhei que escrevesse poesias acho que gosto ainda mais dela ela é muito boa
04/novembro/2020
111234555
adoro
27/outubro/2019
-
gustavobeguedes
sou um novo poeta entrem na minha pagina
29/novembro/2018
DANIELLY ROTOY ALVES.
ADOREI SERVIU EM UMA BOA PARTE DO MEU TRABALHO. COL DECISÃO              ************************************************************************* ................................................................................................................................................... ; ) :)     /)...../)                                                                                                                                      (=*.*=)                                                                                                                                     (....)(....)
06/março/2013
anny
gostei bastante tenho q fazer um trabalho n e tao grante mesmo sendo pouco e bem contada isso importa bastante em qualquer bibliografia parabens para o autor da bibliografia e a marina colasanti  uma grande mulher e grnde historia a todos meus parabens...
09/julho/2012
Dau
Muito talentosa e inteligente, parabéns. Estou orgulhosa da minha cidade por tê-la em nossa Feira do Livro!!!
02/maio/2012
vitoria
oi marina.

é que estou fazendo um trabalho sobre vocêe queria saber se voce pode me falar o que voce faz na vida por favor me responda*



10/abril/2012
Diogo
Caraca valeu, me ajudou muito no trabalho de português só achei que ficou faltando mais dos premios e sucessos, mas fora isso, muito bom.
15/fevereiro/2012
mazesantos5@gmail.com
Ouvi sobre vc hoje em uma pregação feita pelo pastor de minha igreja,ele
leu seu lindo poema;  Eu sewi, agente se acostuma,mas não devia, lindíssimo!!!
Agradeço a Deus por vc existir! Bjs ( Igreja Assembléia de Deus de Madureira)
13/outubro/2011
Valeu
Obrigado isso vai ajudar tem tudo que preciso muito obrigado
08/setembro/2011
felipe
isso vai me ajudar muito na lição chata de portugues
09/junho/2011
thaynnara
tbm amei
o meu trabalho vai fik muito bom 
pq vcs mi ajudaram...
obrigado ♥
bjim
02/junho/2011
sara
amei, me ajudou muito no trabalho!!
08/abril/2011
yasmim
amei acho que vai me ajudar muito
24/março/2011
Lorrana e Nathally
Adoramos a biografia !
Copiei-a para um trabalho escolar . A professora adorou´e deu 10 para o nosso trabalho !
Ela até pediu que nossos colegas copiassem , e outra ela tambem deu sua história maravilhosa que nós adoramos " Entre a Espada e a Rosa " o texto é maravilhosoo !
Somos de Santa Albertina SP , 6° serie e estudamos na Escola Estadual Carlos Celso Lenarduzzi e gostariamos que publicasse o nosso comentário !
 Marina Colasanti ficamos por aqui um grande beijo e esperamos nosso comentario em nosso blog ww.quintalenarduzziblogspot.com.br  !
Ass : Lorrana e Nathally .  
17/março/2011

Quem Gosta

Seguidores