Sofiarocha
Se os olhos são o espelho da alma, os poemas são o ser a nú. Ficará a saber mais de mim lendo-os do que em meia dúzia de linhas autobiográficas que aqui possa escrever. Obras Publicadas: "Um Poeta nas Trincheiras"; " A Conspiração Das Criaturas".
1980-07-28 Lisboa
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COISA ESTRANHA
Coisa estranha esta de escrever poesia
Quando eu não me sinto poetaCoisa estranha escrever por entrelinhas
Quando por norma sou mais directa
Sinto-me, mas não sei que sinto
Escrevo, mas não sei bem qual o nervo
Que se toca com as palavras em que toco
Não entendo esta biologia do ser
Que não assenta nas coisas práticas
Nas químicas básicas do corpo e das moléculas
Não entendo esta necessidade
De beber e suar palavras
Este equilibrio desequilibrado
Entre o receber e o doar
Daquilo que nem sei que seja
Coisa estranha esta de escrever assim
Quando não me sinto uma coisa concreta
Delineada e definida, de formas e com formas
Daquelas que se podem cravar na pedra
Tenho ângulos e vértices por todo o lado esbatidos
Onde está a científica ciência
Para medir e identificar a antítese desta forma de estar
E não sendo científico o existencialismo da consciência
Será que realmente existo?
Escrevo apenas porque a minha essência
Seja ela o que for, gosta de o fazer
Porque nisso e disso retira um certo prazer
E recebe algum alívio,
Para qualquer soçobro do ser
Que forma de escrita esta que me sai convulsa
Estarei doente
Serei apenas e sem sabê-lo, uma dócil paciente?
Padecente de sonhos distendidos
Dilatados, inflamados,
De coceira atiçados
E meio perdidos, meio achados ?!
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