CALVÁRIO


CALVÁRIO


Ocupa os espaços de minha mente,
A ousadia, abstrata e doente
De um pobre louco, esperançoso.

O Que espero dessa vida, meu Deus!?
A mais perfeita! sim, dentre os teus
filhos, partida. Ansioso!

Olho para o céu e vejo as horas roerem
As nuvens, e os abutres contorcerem 
As seus restos prediletos de carniça.

Todavia, sou eu um abutre, diferem 
As asas,as quais, se houverem,
Nunca me destes, por justiça.

Lembro-me de quando agonizava
E toda aquela força que faltava;
Que na verdade nunca tivera...

As fissuras em meu corpo, que sangrava,
Tingia o chão de meu jardim, em vão regava
As flores tristes de minha primavera.

Estou agora soterrado em desgraça,
Ouvindo coros triunfais de minha raça:
Glória! Glória! Glória! Aleluia!

Não tenho nada que me prenda a carcaça.
Não há, também, alguém a dar o ar da graça,
A quem eu possa desferir minha injuria.

Porque, Senhor, dar-me como exemplo
Aos famintos escárnios de teu templo,
Uma sina desgraçada para vê-los

Rastejando como cobras, em adimplo,
De volta às portas do teu templo
Na esperança que um dia o possa tê-los!?

Lambe-me os olhos, tua ira - a chama
De minha solidão; A carne que inflama
Minha alma, a cruz, a dor, a ilusão.

Me domaste, e como escravo em tua Brama,
Me açoitasse com o fervor de tua trama:
Sendo aquele que não teve compaixão.

Eles não te querem, e nem a morte, 
Estão presos à mercê da própria sorte
Hierárquica de promessas divinais.

Me questiono: porque tu, com braço forte
Me apartas do teu trigo, e em inciso corte,
Me lanças às penumbras infernais!?

Deus meu! Deus meu! Porque me abandonaste?
Onde irei eu nesse trilho que trilhaste,
Sendo eu Epigênese Mortal? 

Ó, meu pai, antes, tudo que sonhaste
Não vingasse sobre mim naquela haste,
Dando-me asas de madeira no final.
 


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