Carla Pais

Carla Pais

Sou uma simples escrevinhadora. Alguém que talvez viva dentro das palavras.

1979-09-12 Paris
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Desculpa meu amor


Fogem-me as palavras que usaria nesta folha para te
falar de amor. Talvez, no fundo, as palavras nunca tenham
existido, talvez não passem de invenções delicadas que o
amor nos oferece a cada intervalo de silêncio – desculpa
 
meu amor não ter nascido com o dom de tecer as palavras certas
para construir poemas que te enobreçam a alma,
ou que te aliviem o cansaço dos olhos, pois isso, já outros o fizeram;
os poetas abandonados à leveza das penas que trouxeram ao papel
 
todas as dores do mundo e mais as nossas. Desculpa meu amor,
mas as palavras teimam em debandar-se e não sei se voltarão depois,
suspeito que o amor não se escreva hoje como outros o escreveram, e,
por assim ser, o gastaram como gastamos nós todas as páginas em branco
 
que teimosamente desejamos escritas.
 
 
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