Pintei lá no azul celestial
o mesmo olhar de amor
com que desperta a proverbial
pulsante e farta manhã
rejuvenescendo fraternal
Deixo na ressaca da noite
Um eco generoso
com que me embebedo
no frutífero e saboroso
salivar das nossas bocas
sem credo nem medo
quando todo em ti me excedo
num beijo tão argucioso
Transpiro de olhar
em olhar
sedento, ansioso
por encontrar-te saltitando
no porão dos meus silêncios
e depois... devorar-te pecaminoso
Correndo vou
suscitando a tua contemplativa
anuência pelos meus abraços
Recrio a rodovia dos teus sonhos
quando alimento os desejos (in)satisfeitos
enfeitando o diploma dos nossos gemidos
desafiando pesarosos
o silêncio que estrangulo
qual criminoso
Deixo-te por encaixotar
meus erros embalsamados
em remotas e resignadas
histórias
que decanto em poesia
sentida
transtornada e dolorosa
Se tiver ainda tempo
realço novas cores
na manhã ociosa e atónita
que brame resignada
perante o ultimato desconcertante
de uma gargalhada gemendo no espectro
da noite se engalanando de estrelas
luzindo fascinadas
Saúdo minha liberdade
Supero se preciso
os medos de ser
amistoso
quando o corpo em decadência
nem suporta mais
tantas vagas ritmadas
de felicidade
onde se decide como
enfeitar de novo a vida
crepitante veloz aplaudida
morrendo depois tolerante
e desiludida
Pelos holofotes mendigando
e adormecendo a luz flagelada
vieste pra mim debruçada sem
complacências...apenas tu
revigorando cada desejo em clamor
que assim se desperta triunfante
em respostas cronometradas
no dossier dos silêncios
onde jazem nossas vidas
estreitando-se ressarcidas
alcatifando cada palavra armazenada
na alfândega do vento rugindo brando
escondido na algibeira do tempo
correndo expedito...rufando
Frederico de Castro