Uma Crônica da Despedida

Uma Crônica da Despedida , uma janela para a vida e a  morte.

A tela do celular

Os dedos deslizavam pela tela fria, teclando palavras que tentavam preencher o vazio da distância. Em cada mensagem, um pedacinho da alma se desprendia, voando pelo ciberespaço para encontrar eco em outro coração. Era assim que Alessandra e seu pai, Adauto, se comunicavam nos últimos dias de sua mãe.

As mensagens, curtas e objetivas, como um telegrama moderno, traziam notícias da saúde da avó, da rotina familiar, da vida que insistia em seguir seu curso, mesmo diante da iminência da perda. A cada nova notificação, Alessandra sentia um aperto no peito. As palavras, tão simples e cotidianas, carregavam consigo o peso da finitude, a consciência de que o tempo era curto e que cada segundo deveria ser valorizado.

A doença da avó, a partida da tia, a volta ao hospital... Os acontecimentos se sucediam rapidamente, como folhas caindo de uma árvore no outono. A cada nova mensagem, uma nova folha se soltava da árvore da vida, revelando a fragilidade da existência.

Mas, mesmo em meio à dor e à incerteza, a vida continuava. A filha, com sua alegria juvenil, enviava fotos de momentos felizes, tentando trazer um raio de sol para a vida do pai. E ele, por sua vez, respondia com palavras de carinho e esperança, buscando forças para enfrentar a tempestade.

A tela do celular, que antes era apenas um meio de comunicação, tornou-se uma espécie de diário íntimo, um registro dos últimos momentos de uma família em transição. Nela, estavam inscritas as alegrias, as tristezas, as dúvidas e as certezas que acompanham a vida e a morte.

Ao final, as mensagens se tornaram um testemunho silencioso da força do amor familiar, capaz de transcender a dor e a distância, e de nos conectar com aqueles que amamos, mesmo quando estão longe ou quando se foram.

Reflexão:

Essa crônica busca transformar as mensagens trocadas entre pai e filha em uma narrativa que transcenda a simples comunicação digital. Ao explorar os sentimentos e as emoções implícitos nas mensagens, busca-se criar uma atmosfera de intimidade e profundidade, revelando a complexidade das relações humanas e a fragilidade da vida.

 

Obs.: Material retirado de diálogos dos dias 02/03/2015 a 25/06/2015.

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