Lucidez brutal
(não sou monstro e menos ainda um projeto de salvação)
Nasci sem pele,
descascada,
nua de proteção
Meu sorriso infeccionava
todo dia...
ardia aqui,
queimava ali
até ter pus
Sons profundos
cheiros adoeciam
sabores indizíveis
e até desprezíveis
tudo era demais
Criava mundos de sonhos
de Bicho-papão
num modo sobrevivência
à correnteza de confusão
Cresci no furacão,
redemoinho de gente
tudo era forte,
gritando,
acontecendo,
sem um porquê
informações, todas juntas,
conflitando
com o fato de eu ser...
...ser o quê?....
A verdade-curto-circuito
de intensidade,
num grande mar de sensações inundando as vidas que toquei
e, de verdade,
(eu sei) modifiquei
naquele louco frenesi
Sucumbi ao vendaval
tantas vezes!
Mergulhava na vida,
lambuzava as feridas,
criei, voei, cruzei marcas
e - me - marquei
foram inúmeras
as vezes que enlouqueci
e chorei...como chorei
Estou cansada,
cansei de ser eu:
intensa e desperta
uma ilha deserta
uma peça quebrada
estragada
no meio de todo um mundo
que não sabe acolher
Minhas lágrimas pedem trégua
já andei por tantas léguas
que estou sem condição
de lutar por todo o sempre
não quero que me temam
muito menos me salvem,
quero respirar sem dor,
sem essa coisa de ser extrema
quero o vômito das mágoas
e o perdão de um poema
Cacal
2025
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