Carol Ortiz

Carol Ortiz

Nasci em Campinas, SP e vivi em muitos lugares pelo mundo. Escrevo poemas desde criança e sou apaixonada por música, literatura, viagens e pessoas

18 setembro Campinas, SP
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Alguns Poemas

VAMOS FALAR SOBRE FEMINISMO?


Muitas pessoas distorcem o significado deste conceito: “é mimimi”, “mulheres deixaram de ser femininas e perderam lugar na sociedade (como uma dama, eu digo)”, “feminista é uma mulher-macho que não tem higiene, não se cuida, é feia e fedida”. Juro que ouvi cada uma dessas afirmações, mas o que mais incomoda é ver mulheres (de bem, é claro!) defenderem essa postura selvagem, ignorante e misógina: “meninas vestem rosa, meninos vestem azul!”
Desconstruindo conceitos, explico pacientemente para todos os machões de plantão: vocês sabem o que é Feminismo?
Feminismo vem sendo um movimento que ocorre em fases, e estas fases se articulam. Ele possui etapas, as quais chamarei de “ondas”. Esse movimento é político, social, humanitário, intelectual e facilitador para a igualdade entre as pessoas.
A primeira onda, em meados de 1800, foi completamente diferente do que acontece hoje. As propostas de lutas eram outras, a amplitude do movimento era muito inferior e as discussões em pauta eram o que hoje chamaríamos de estereotipadas “lutar para a mulher não pertencer ao marido”. Historicamente, no século XIX, as pessoas pretas não eram consideradas pessoas e, mesmo assim, com um Feminismo Branqueado e etilizado, a escrava Sojoumer Truth, hoje reconhecida como ativista dos direitos da mulher e abolicionista, chamou a atenção da sociedade para problemas como a escravidão, a desumanização e a necessidade de ter uma voz e um espaço: “homem diz que mulher precisa ser ajudada a entrar em carruagem, ser elevada aos céus...Eu não! Eu não sou mulher? Eu arei, plantei e recolhi alimentos e nenhum homem me ajudou. Eu vi meus filhos serem vendidos e não pude reclamar. Chorei sozinha. E eu? Eu não sou mulher?”
A segunda onda ocorreu num contexto histórico bélico. O mundo precisava de mão de obra barata e a sociedade, em guerra, precisava sustentar o lar. Mulheres brancas de classe média/alta saíram às ruas a fim de acabar com a opressão feminina: mulher mais pobre precisava de emprego (e não era opção, como muitos propagam). O mundo em guerra requer custo de vida mais caro. A mulher lutava para que pudesse trabalhar em condições salariais idênticas ao homem (lutamos por isso até hoje), à igualdade dentro de casa (dividir afazeres) e assim, juntos, homens e mulheres pudessem criar os filhos dignamente. Foi aqui que mulheres negras levantaram suas vozes e uniram forças: elas conseguiram mostrar que, embora as demandas das mulheres brancas fossem necessárias, ainda não eram suficientes para suprir as necessidades de todas as mulheres.
A terceira onda, a qual vivemos até hoje, traz novas questões para serem definidas: diversidade e pluralidade de pensamentos e posicionamentos, procura de uma identidade estável e coerente, questões sobre a separação de gênero e sexo, a própria subjetividade, empoderamento e muitas, mas muitas, outras questões.
A luta está longe de acabar. É um movimento mundial, intelectual, político, social, naturalmente organizado e histórico. Não há possibilidades de freá-lo. Percebe-se (eu espero) que é muito mais do que associar feminista à queimadoras de sutiã em praça pública, ou mulheres que não depilam as pernas ou (e esta é a pior) meninas que querem se igualar aos homens. Não queremos nos igualar a nada, queremos um espaço nosso, para podermos ser quem nós quisermos ser. Também queremos reconhecimento intelectual e salários dignos porque, mais uma vez, não queremos ser iguais aos nossos pais, irmãos ou maridos, mas sim porque somos capazes de produzir e construir para a sociedade.
Meus caros e, infelizmente, algumas caras, Feminismo não é essa ideia simplista e dicotômica de oposto de machismo. Ser feminista exige estudo, compreensão do mundo, da luta histórica de cada ser humano, exige uma visão panorâmica e aprofundada da natureza humana, exige um posicionamento crítico, muita leitura e sensibilidade para levantar questões incômodas, exige atitude para desconstruir crenças e para juntas buscar uma solução tendo como base a igualdade, a potencialidade humana e a justiça. Nosso lema é lutar para termos voz e, com isso, melhorar a sociedade global.
Sou feminista com orgulho!
PINHEIROS, R.; MIZAEL, T. (2019). Debates sobre feminismo e Análise do Comportamento (1ª.ed). Fortaleza: Imagine Publicações.
SAFFIOTI, H.B. (2004). Gênero, patriarcado e violência. São Paulo: Fundação Perseu Abramo.
BRAH, A. & PHOENIX, A. (2004). Ain´t I a woman? Revisiting Intersectionality. Journal of International Woman´s Studies.

 


 

DA SERPENTE À MAÇÃ: QUAL O PECADO CAPITAL?

                                                                     ATO 1
   (Loucura e Sanidade conversam em um quarto escuro e abafado)

Sanidade: Que me responderia se eu te perguntasse aonde vais?
Loucura:   É simples, pois diria que para todos os lados, todas as partes. Cerco rios e pontes, vou ao céu e ao inferno, porque sou a sanidade que não tem cura, sou o real, sou a Loucura!
Sanidade: De todo o modo, por onde vás estarei presente, pois sou o real sou o concreto, sou um tudo em um deserto, o que todos vêem, o que todos sentem, a loucura sem liberdade, sou fiel ao que tu vês, sou a Sanidade.
Loucura: Ora, pois, Sanidade?! Como dizes ser sã, se és louca como eu?
Sanidade: Louca? Como posso ser louca se tua única salvação sou eu? Se, modestamente sou a única cura? Se todas as coisas estranhas sou eu quem as transforma em realidade?Sou a única forma saudável de ver o mundo!
Loucura: Tudo o que é grande você reduz a quase nada, todos os ângulos de enxergar as
coisas você subtrai. Como, ainda, podes dizer que és a única salvação que existe? Só um louco para acreditar em tal coisa!
Sanidade: Ah, então afirmas que um louco acreditaria na verdade? Tens consciência de que ao afirmar isso, nada mais dizes do que concordar que tu dependes de mim?
Loucura: Agora tu te deste mal! A minha suposta dependência pode ser comparada com um pássaro que se alimenta de formigas. Os pássaros precisam de insetos para viver. Se  elas morrem, eles também morrerão. Porém, vós, insetos, também precisais de nós, predadores. Compreendes? Tu precisas da minha existência para existir.

(Saem Loucura ou Sanidade e entra o Amor)

Amor: Onde estou? Qual minha identidade? Sou Loucura ou Sanidade? Preciso finalizar minha  eterna busca do doentio dos apaixonados, de outro está a calmaria dos amantes. Estou sem explicação. Que dizer? Que fazer? Posso não me enquadrar nesse mundo, mas não sou louco, nem tenho razão. Os que amam estão doentes ou doentes são os que petrificam o coração?

                                                                ATO II

Em um bosque da Grécia Antiga, entram, conversando, de mãos dadas, Orfeu e Eurídice:

Orfeu: Oh! Como estás tão formosa, minha Eurídice! O sol, que hoje brilham ao se entrelaçar ao teu suave charme, é para mim o pedaço do Éden. Todas as canções que sei são para ti e, em nome de Zeus, só usarei minha voz para te amar. Sou um mero mortal aprisionado em teu amor.
Eurídice: Meu doce Orfeu, como é bom olhar para ti e ver teus olhos brilhando. Amo-te tanto,  que nem o canto do mais belo pássaro, nem a mais formosa flor poderão expressar tal sentimento.
Orfeu: Eurídice, Eurídice, como é bom ouvir tais palavras e crer em tudo isso!
Eurídice: Nosso amor é tão real que a loucura está distante de alcançar nossos sonhos.
Orfeu: Tudo o que posso dizer-te, usando minha lira e minha humilde voz, é que te amo...

(entra a Serpente)

Orfeu: Eurídice, cuidado! Atrás de tua beleza, um monstro te persegue!...Oh, não! Eurídice!!!

(Serpente ataca Eurídice)
(Eurídice cai inanimada. Orfeu abraça-lhe o corpo)

Orfeu:Eurídice, como pode?! O que aconteceu contigo, minha amada?! Fala comigo! Dá-me, ao menos, um sorriso!...Juro pelas minhas lágrimas e pela minha voz que hei de ter-te novamente em meus braços. Juro por meu pai Eagro, o deus-rio, e por minha mãe, a musa Calíope, que te terei de volta! Juro que quando o sol surgiu novamente no horizonte de minha alma, estarei contigo ao meu lado e serei capaz de cantar e ver todo  o brilho dos nossos planos e sonhos surgirem novamente em nossas vidas. Poderei  dar-te todo o meu amor e assim poderemos juntos enxergar todas as coisas do   mundo da forma como fazíamos...Eurídice!

(Aproxima-se a Serpente)

Serpente: O veneno do ser humano mostra-se na hora de dor, de desespero. O homem pode até ser bom em dias de sol, em dias de glória, mas quando surge a angústia, aí sim é que ele mostra sua face sombria e seus gestos se tornam hostis, na busca desesperada e muitas vezes inútil de obter algo valioso de volta. Seus dias se transformam em horas vazias e sem sentido, sua vida fica oca e ele é reduzido a nada. A realidade o invade de tal forma que a loucura começa a persegui-lo. Todo o seu desejo de vingança torna-se o único motivo para agir. Ah, Orfeu, tu não serás diferente do resto dos mortais! Vais sofrer, desesperar-te, maltratar-te e, enfim, a realiade terá tamanho peso que a loucura o alcançará. Serás como o pior verme que  já habitou o mundo.

                                                      ATO III

(Novamente no quarto escuro conversam Loucura e Sanidade)

Loucura: Orfeu ficou louco! Orfeu ficou louco!
Sanidade: Presta atenção ao desfecho da história! Orfeu não enlouqueceu porque se entregou  à realidade!
Loucura: Estúpida, ele enlouqueceu porque fugiu de ti!

(Entra o Amor)

Amor: Acalmem-se, meninas! Orfeu adoeceu de amor, vocês foram mera consequência.
Loucura e Sanidade: Verdade?!
Amor: Observem que a cada caso de loucura, a causa principal foi um forte sentimento por alguém ou algo. Isso se chama amor mal resolvido, logo, vocês são apenas um acessório do amor.

(Humilhadas, saem Loucura e Sanidade. Entra a Serpente)

Serpente: Sabes, Amor, descobri teu segredo.
Amor: Ora, já era tempo, afinal, alguém teria que saber que sou o melhor e mais profundo    sentimento!
Serpente: Engana-te, medíocre! Tu não passas de um amador. Finalmente descobri que da maçã à serpente, do Éden ao Inferno, tu és o pecado capital.
Amor: Vais morder-me e espalhar o teu veneno, monstro bestial?
Serpente: Jamais sujaria meus lábios em ti, pois meu pior e mais letal veneno seria mais  limpo que teu caráter.

(Serpente esfaqueia Amor, matando-o. Fecham as cortinas)


ANO: 1999


Nasci em Campinas, SP. Morei em muitos lugares e voltei para mesma cidade para envelhecer. Sou casada e mãe de cachorros e crianças que precisem de colo. Essas poesias foram escritas durante toda a minha vida e em épocas diferentes. Algumas foram publicadas em coletâneas e outras não. Para quem gosta e quer passar u tempo em contato com a literatura, boa leitura :)
Se quiserem se corresponder, e-mail: cacal.ortiz@hotmail.com (posso demorar para responder, mas sempre respondo). Acessem meu canal no youtube sobre livros:
 https://www.youtube.com/channel/UCOj_DssoWp0_1HO7VCXgRcA?view_as=subscriber
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diogoletriamoraes
Adoro suas poesias como adoro seus lábios, minha esposa amada.
19/fevereiro/2020

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