Garça descontrolada

 

diante do mar,

o homem de terno e gravata

põe a pata leonina no cais.

 

sílabas tangidas, constrangidas

pelo aguilhão da sua caneta,

assim a marcha da linguagem,

ninguém dirige minhas palavras.

 

seguranças à volta,

persuarde-o o azul, 

mira indistinguíveis andorinhas

e abona a violência da gaivota 

que explode no ar.

 

excitam-no as fragatas, 

aves-de-guerra, piratas-do-mar,

garças do governo,

com a estrutura cristalina

do hábito de roubar, assediar 

até à rendição e as aves perseguidas

regurgitem o peixe.

 

faz apologia do sangue

no bico do polvo, 

no bico das aves de rapina.

 

diante da fêmea,

plumas da fama,

esplêndidas cores, 

altivamente exibidas,

subcorrem horrores

das subcorrentes,

delitescências,

por baixo de outras,

opostas ao povo.

 

um país em contato

com águas turvas

deliquesce.

 

diante do mar,

o homem sem paletó e gravata

encolhe a pata como uma garça,

se inspira nas proas cortando a água,

abissais inspirações, faz-se de surdo

para o Poema dos Lázaros

que só ganham retalhos para cobrir as feridas,

feridas corcundas.

                        

olhos de águia-marinha 

para além da ponte e horizonte,

no bolso, em prontidão, 

a caneta oportunista, generalista,

caçadora, predadora,

capaz de capturar outras canetas-

roubar suas presas-,

uma caneta com bico ensanguentado.

 

                                                      LASANA LUKATA 

 

 

 

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LASANA LUKATA LUKATA
poema novo
10/dezembro/2025

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