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1955-12-21 lisboa
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mil e nenhum poema

1
É ainda o milagre
o incêndio lento das noites,
ofício de febre e esplendor
de nudez e júbilo
de espelhos e nomes -
e o sono é a antiga inteligência
que nos acorda por dentro.

2
Páras:
as algibeiras são outros mares
de nomes belos e esquecidos.
Estavas assim ardente e incógnita,
como árvore subtil e terrena -
mão-cheia de força e tristeza
era o vagaroso acender dos filhos
que corriam dentro de ti
no nascimento sábio da voz -
eras a ideia pura de mãe
a que conhece a cegueira da vida
e vem abrasada colada à chuva.

Páras:
e a Terra segue-te.

3
Há os que recolhem o lixo na tarefa espessa da chuva
e iluminam o veneno espantado do tempo:
ei-los de espadas ferozes e vozes ébrias,
caindo por dentro no delicado espasmo das veias.
Ardem ainda assim. Vêm mortos de alegria,
de infindáveis células e pedras ateadas.
São violentos e descem ocultos
de tantos nomes de tantos medos.
Chamam devagar a ressureição das mãos,
o magro exercício dos olhos analfabetos
e as escadas tumultuosas
em que colhem o lírio do suor.
Nascem ainda assim
encostados aos caixotes mágicos
onde as estrelas caem geladas-

e a vida fica mais espalhada no que recolhem.

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