entre paredes

O tão pouco que já mudei me levou além

do que já fui antes.

Como se tivesse rejuntando meus pedaços...

Minhas partes espalhadas, onde toquei

Recolho meus gestos passados
ainda frescos
como afrescos
impregnados de mim

Revoam... Revoltam...
refeitos
Retornando-os a mim

partes minhas me ressurjem
me remontam a outros tempos

Recolho-me
nos tempos...
estive alheia... ausente...
perdida
fora daqui
e
de
mim

acordei agora
o vivo imanente no meu presente
inseparavelmente incontido implicado
num contém e estar contido
em todas as coisas

sou a órbita
nos atomos

natureza de meu próprio ser
transcendente

de dentro me saio
das paredes porosas da casa

recolho-me de lembranças,
concentrando-me na dança... em mim

assisto o passado
emanado dos cantos
rodopiante nos
tetos
ladrilhos e rodapés

me vejo pintando
pincelando
a casa que me habita

Vesti-me de casa
como quem se consagra
com hábito de puro linho
a Deus

sem entender direito
a força que me habita
sou
o verbo que cria

sinto como se eu e elas
estivéssemos
entre
parenteses

porosamente
misturadas
e
em perfeita comunhão

através dos nossos rejuntes
e
das muitas camadas de tinta

sou a pintura e a pintora
de
paredes renovadas

sou...

um quadro
pindurado
sou
o prego
o furo
sou tudo
sou nada
sou
também

entre as paredes
em tudo
estou
presente

Ella de Castro

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