Um homem como nós

A José Saramago, com as suas próprias palavras. 

Tu foste um homem como os outros: sonhaste. No fundo, não inventaste nada. Foste apenas alguém que se limitou a levantar pedras e a pôr à vista o que estava por baixo delas. Não é culpa tua se de vez em quando de lá saíram monstros.  Não se pode trabalhar num esgoto sem cheirar a esgoto.  Cegueira também é viver num mundo onde se tenha acabado a esperança. Se não formos capazes de viver inteiramente como pessoas, ao menos, façamos tudo para não viver inteiramente como animais. Sem futuro, o presente não serve para nada, é como se não existisse. Pode ser que a humanidade venha a conseguir viver sem olhos mas então deixará de ser humanidade.

De tudo isto nos avisaste, antes de partires. Mas a nossa maior tragédia é não saber o que fazer com a vida. Ou, sequer, o que fazer com as tuas palavras. Que continuam aí, mais vivas que nunca, a lembrar-nos que dentro de nós há uma coisa que não tem nome, essa coisa somos nós.
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