Armindo Trevisan
Armindo Trevisan é um teólogo, poeta, crítico de arte e ensaísta brasileiro, tendo obras traduzidas em várias línguas, especialmente alemão, italiano, espanhol e inglês.
Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brasil
19931
0
1
Acalanto para Marilyn Monroe
De repente
no teu seio
cresceu um lírio do campo.
São Francisco, com sua mão
de menino, o recolheu.
São Bernardo, a sós, olhou
o teu corpo inteiro como
se olha
um grande girassol.
Vieram santos, donzelinhas
de pescoço decepado;
Santa Catarina trouxe
sua roda rubra e egípcia.
Tua coxa foi ficando
do tamanho azul da lua,
e tu mesma, mais lunar,
ficaste de todo nua.
O mundo inteiro grasnou
que eras bela, que possuías
um morango em cada poro,
uma flor em cada pêlo.
Banqueiro: por que me fitas?
Governador: que desejas?
O repórter, não me comas!
Tornei-me tão pequenina
que o pecado que morava
em mim deixou-me sozinha
com Deus e comigo, livre.
Na distração dessa hora
engoli todas as pílulas
que uma mulher necessita
para sair deste mundo.
Livre, livre,
bela bela
recuperei o meu corpo
nascido antes de mim.
(...)
Publicado no livro A imploração do nada (1971).
In: TREVISAN, Armindo. Antologia poética. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1986. p.25
no teu seio
cresceu um lírio do campo.
São Francisco, com sua mão
de menino, o recolheu.
São Bernardo, a sós, olhou
o teu corpo inteiro como
se olha
um grande girassol.
Vieram santos, donzelinhas
de pescoço decepado;
Santa Catarina trouxe
sua roda rubra e egípcia.
Tua coxa foi ficando
do tamanho azul da lua,
e tu mesma, mais lunar,
ficaste de todo nua.
O mundo inteiro grasnou
que eras bela, que possuías
um morango em cada poro,
uma flor em cada pêlo.
Banqueiro: por que me fitas?
Governador: que desejas?
O repórter, não me comas!
Tornei-me tão pequenina
que o pecado que morava
em mim deixou-me sozinha
com Deus e comigo, livre.
Na distração dessa hora
engoli todas as pílulas
que uma mulher necessita
para sair deste mundo.
Livre, livre,
bela bela
recuperei o meu corpo
nascido antes de mim.
(...)
Publicado no livro A imploração do nada (1971).
In: TREVISAN, Armindo. Antologia poética. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1986. p.25
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