Sérgio Milliet
Sérgio Milliet da Costa e Silva foi um escritor, pintor, poeta, ensaísta, crítico de arte e de literatura, sociólogo e tradutor brasileiro. Foi também diretor de biblioteca, tendo dirigido a Biblioteca Mário de Andrade.
1898-09-20 São Paulo, Brasil
1966-11-09 São Paulo
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Saudade
Quero cantar a saudade da pátria apesar do
tema ser romântico
Mas faz tanto frio hoje em Paris
tanto vento
faz tanta solidão nas ruas mascaradas!
Tenho a alma pesada
a bronquite cantando no peito como uma gaita de carnaval
e faz tanta tristeza no ambiente lamentável
do meu quarto de hotel
Cantar
O pássaro que se pousa num galho
todo molhado coitado
constata que a chuva cai
sacode-se e canta
Mas eu tenho medo dos ironistas
não ouso fazer como o pássaro
não creio em Deus como ele ingenuamente
e em vez de cantar ou de chorar
eu me rio
e para que me acreditem poeta modernista
falo de trilhos
de automóveis
e de estradas de rodagem
Mas como me pesa esse exotismo do aço
e que vontade invencível de rimar versinhos de amor
de me deixar embalar pela música pobre dos alexandrinos
Necessidade de simplificação
de reintegração como diria o Graça
A tristeza passou
e a saudade também
Foi um acesso de febre
ameaça de gripe
lembrança do restaurante onde comi esta noite
um bife nervoso
no meio do vozerio ê ê ê ê on on ê a ê on ê
e dentro de mim um ão invomitável...
Publicado no livro Poemas Análogos (1927). Poema integrante da série Poemas Brasileiros.
In: MILLIET, Sérgio. Poesias. Porto Alegre: Livr. do Globo, 1946. p.72-73. (Autores brasileiros, 19
tema ser romântico
Mas faz tanto frio hoje em Paris
tanto vento
faz tanta solidão nas ruas mascaradas!
Tenho a alma pesada
a bronquite cantando no peito como uma gaita de carnaval
e faz tanta tristeza no ambiente lamentável
do meu quarto de hotel
Cantar
O pássaro que se pousa num galho
todo molhado coitado
constata que a chuva cai
sacode-se e canta
Mas eu tenho medo dos ironistas
não ouso fazer como o pássaro
não creio em Deus como ele ingenuamente
e em vez de cantar ou de chorar
eu me rio
e para que me acreditem poeta modernista
falo de trilhos
de automóveis
e de estradas de rodagem
Mas como me pesa esse exotismo do aço
e que vontade invencível de rimar versinhos de amor
de me deixar embalar pela música pobre dos alexandrinos
Necessidade de simplificação
de reintegração como diria o Graça
A tristeza passou
e a saudade também
Foi um acesso de febre
ameaça de gripe
lembrança do restaurante onde comi esta noite
um bife nervoso
no meio do vozerio ê ê ê ê on on ê a ê on ê
e dentro de mim um ão invomitável...
Publicado no livro Poemas Análogos (1927). Poema integrante da série Poemas Brasileiros.
In: MILLIET, Sérgio. Poesias. Porto Alegre: Livr. do Globo, 1946. p.72-73. (Autores brasileiros, 19
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