Lila Ripoll
Lila Ripoll foi uma poetisa, pianista e militante comunista brasileira.
1905-08-12 Quaraí RS
1967-02-07 Porto Alegre, Brasil
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Retrato
Clara manhã de inverno.
Na rua longa e fria
procuro ansiosamente
um número, uma casa.
(...)
Aguardo a professora,
aguardo e penso,
no agasalho do ambiente de silêncio.
E detenho meus olhos surpreendidos
no retrato maior que a sala guarda.
Reconheço a figura, a fronte ampla,
o olhar audaz e manso ao mesmo tempo.
É ele sim, é o grande Cavaleiro,
Cavaleiro de muitas esperanças.
Que faz ali? Que faz ali? pergunto.
Por que naquela casa silenciosa
tranquilamente antiga e acolhedora,
o retrato de Prestes na parede
sobressai e ilumina a sala inteira?
(...)
"É meu neto, menina. Gosta dele?
É o Luís Carlos, meu neto, não sabia?"
E vejo à minha frente, nobre e simples,
a vovó Ermelinda, de Luís Carlos,
para mim Cavaleiro da Esperança
E a voz continuou serena e mansa:
"Um menino tão terno, tão sensível,
quem diria pudesse ser um dia
um revolucionário?"
(...)
Anda longe o Luís Carlos, de seus dias.
Anda longe e está próximo e presente:
nas palavras apenas murmuradas
— afetivos suspiros e lembranças —
e nas outras que brotam impetuosas
dominando planícies e cidades.
(...)
Seu passo um dia cantará nas pedras
e humildes casas se iluminarão.
E à sua voz, de chama e tempestade,
as vozes triunfais responderão.
Publicado no livro Novos Poemas (1951).
In: RIPOLL, Lila. Ilha difícil: antologia poética. Sel. e apres. Maria da Glória Bordini. Porto Alegre: Ed. da Universidade/UFRGS, 1987. p.106-10
Na rua longa e fria
procuro ansiosamente
um número, uma casa.
(...)
Aguardo a professora,
aguardo e penso,
no agasalho do ambiente de silêncio.
E detenho meus olhos surpreendidos
no retrato maior que a sala guarda.
Reconheço a figura, a fronte ampla,
o olhar audaz e manso ao mesmo tempo.
É ele sim, é o grande Cavaleiro,
Cavaleiro de muitas esperanças.
Que faz ali? Que faz ali? pergunto.
Por que naquela casa silenciosa
tranquilamente antiga e acolhedora,
o retrato de Prestes na parede
sobressai e ilumina a sala inteira?
(...)
"É meu neto, menina. Gosta dele?
É o Luís Carlos, meu neto, não sabia?"
E vejo à minha frente, nobre e simples,
a vovó Ermelinda, de Luís Carlos,
para mim Cavaleiro da Esperança
E a voz continuou serena e mansa:
"Um menino tão terno, tão sensível,
quem diria pudesse ser um dia
um revolucionário?"
(...)
Anda longe o Luís Carlos, de seus dias.
Anda longe e está próximo e presente:
nas palavras apenas murmuradas
— afetivos suspiros e lembranças —
e nas outras que brotam impetuosas
dominando planícies e cidades.
(...)
Seu passo um dia cantará nas pedras
e humildes casas se iluminarão.
E à sua voz, de chama e tempestade,
as vozes triunfais responderão.
Publicado no livro Novos Poemas (1951).
In: RIPOLL, Lila. Ilha difícil: antologia poética. Sel. e apres. Maria da Glória Bordini. Porto Alegre: Ed. da Universidade/UFRGS, 1987. p.106-10
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