Triste Vida Corporal
Se houvesse o eterno instante e a ave
ficasse em cada bater d'asas para sempre,
se cada som de flauta, sussurro de samambaia,
mover, sopro e sombra das menores cousas
não fossem a intuição da morte,
salsa que se parte... Os grilos devorados
não fossem, no riso da relva, a mesma certeza
de que é leve a nossa carne e triste a nossa vida
corporal, faríamos do sonho e do amor
não apenas esta renda serena de espera,
mas um sol sobre dunas e limpo mar, imóvel,
alto, completo, eterno,
e não o pranto humano.
Publicado no livro Alberto da Costa e Silva carda, fia, doba e tece (1962).
In: SILVA, Alberto da Costa e. As linhas da mão. Pref. Antônio Carlos Villaça. Rio de Janeiro: Difel; Brasília: INL, 1978. p.7
ficasse em cada bater d'asas para sempre,
se cada som de flauta, sussurro de samambaia,
mover, sopro e sombra das menores cousas
não fossem a intuição da morte,
salsa que se parte... Os grilos devorados
não fossem, no riso da relva, a mesma certeza
de que é leve a nossa carne e triste a nossa vida
corporal, faríamos do sonho e do amor
não apenas esta renda serena de espera,
mas um sol sobre dunas e limpo mar, imóvel,
alto, completo, eterno,
e não o pranto humano.
Publicado no livro Alberto da Costa e Silva carda, fia, doba e tece (1962).
In: SILVA, Alberto da Costa e. As linhas da mão. Pref. Antônio Carlos Villaça. Rio de Janeiro: Difel; Brasília: INL, 1978. p.7
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