Lindolf Bell
Lindolf Bell foi um poeta brasileiro.
1938-11-02 Timbó SC
1998-12-10 Blumenau
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Poema Debaixo do Viaduto do Chá
Aqui no porão,
aqui neste oceano de madeira,
teias e cimento,
aqui neste escuro
onde só os corações iluminam,
de onde projetamos crescer através do teto,
aqui nos quedamos em colóquios de amor.
Aqui nesta caverna de funduras,
neste chão de frio,
aqui onde os pudores se abrem como tranças,
aqui o mundo nos plasma.
Daqui desta vala,
daqui deste céu,
daqui desembrulharemos os corações de celofane,
seremos tristes e necessários.
Ah! Os plátanos
que morrem ao longo das ruas,
de que ninguém sabe
que plátanos são.
Aqui pentear os cabelos para o baile.
Aqui cinzenta cidade pesada — câncer de lirismo,
estamos sós,
estamos inteiros.
Grande deusa de cimento,
úberos de ferro, espalmada asa,
de todos os ventos tuas janelas encabuladas,
tuas crianças de concreto,
os pássaros do acaso
com seus ninhos do acaso.
Ah! Cidade do viaduto
de onde pescamos a lua com um anzol,
das rosáceas de zinco,
das vigas enferrujadas
porque esqueceram de polir teu coração.
Aqui os ônibus arrulham
como frequentadores de praças,
de praças, de cidade,
onde estão as praças,
onde estão as praças
para lavar os rostos,
para dizer as coisas nossas
com a boca nossa áspera
oh! braços de frio
oh! sorrisos de feira.
Poema integrante da série Incorporação.
In: BELL, Lindolf. Incorporação: doze anos de poesia, 1962/1973. São Paulo: Quíron, 1974. (Sélesis, 3)
aqui neste oceano de madeira,
teias e cimento,
aqui neste escuro
onde só os corações iluminam,
de onde projetamos crescer através do teto,
aqui nos quedamos em colóquios de amor.
Aqui nesta caverna de funduras,
neste chão de frio,
aqui onde os pudores se abrem como tranças,
aqui o mundo nos plasma.
Daqui desta vala,
daqui deste céu,
daqui desembrulharemos os corações de celofane,
seremos tristes e necessários.
Ah! Os plátanos
que morrem ao longo das ruas,
de que ninguém sabe
que plátanos são.
Aqui pentear os cabelos para o baile.
Aqui cinzenta cidade pesada — câncer de lirismo,
estamos sós,
estamos inteiros.
Grande deusa de cimento,
úberos de ferro, espalmada asa,
de todos os ventos tuas janelas encabuladas,
tuas crianças de concreto,
os pássaros do acaso
com seus ninhos do acaso.
Ah! Cidade do viaduto
de onde pescamos a lua com um anzol,
das rosáceas de zinco,
das vigas enferrujadas
porque esqueceram de polir teu coração.
Aqui os ônibus arrulham
como frequentadores de praças,
de praças, de cidade,
onde estão as praças,
onde estão as praças
para lavar os rostos,
para dizer as coisas nossas
com a boca nossa áspera
oh! braços de frio
oh! sorrisos de feira.
Poema integrante da série Incorporação.
In: BELL, Lindolf. Incorporação: doze anos de poesia, 1962/1973. São Paulo: Quíron, 1974. (Sélesis, 3)
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