Canto Segundo [I
Opalescem os céus — clarões de prata —
Beatífica luz pelo ar mimoso
Dos nimbos d'alva exala-se, tão grata
Acariciando o coração gostoso!
Oh! doce enlevo! oh! bem-aventurança!
Paradíseas manhãs! riso dos céus!
Inocência do amor e da esperança
Da natureza estremecida em Deus!
Visão celeste! angélica encarnada
Co'a nitente umidez d'ombros de leite,
Onde encontra amor brando, almo deleite,
E da infância do tempo a hora foi nada!
A claridade aumenta, a onda desliza,
Cintila co'o mais puro luzimento;
De púrpura, de ouro, a c'roa se matiza
Do tropical formoso firmamento!
Qual um vaso de fina porcelana
Que de através o sol alumiasse,
Qual os relevos da pintura indiana
É o oriente do dia quando nasce.
Uma por uma todas se apagaram
As estrelas, tamanhas e tão vivas,
Qual os olhos que lânguidas cativas,
Mal nutridas de amores, abaixaram.
Aclaram-se as encostas viridantes,
A espreguiçar-se a palma soberana;
Remonta a Deus a vida, à origem d'antes,
Amiga e matinal, donde dimana.
Acorda a terra; as flores da alegria
Abrem, fazem do leito de seus ramos
Sua glória infantil; alcion em clamos
Passa cantando sobre o cedro ao dia
Lindas loas boiantes; o selvagem
Cala-se, evoca doutro tempo um sonho,
E curva a fronte... Deus, como é tristonho
Seu vulto sem porvir em pé na margem!
Talvez a amante, a filha haja descido,
Qual esse tronco, para sempre o rio —
Ele abana a cabeça co'o sombrio
Riso do íris da noite entristecido.
(...)
Publicado no livro Impressos (1868/1869). Poema integrante da série Guesa Errante.
In: SOUSÂNDRADE. O Guesa. Londres: Cooke e Halsted, The Moorfields Press, 1888
NOTA: Poema inacabado, composto de 13 canto
Beatífica luz pelo ar mimoso
Dos nimbos d'alva exala-se, tão grata
Acariciando o coração gostoso!
Oh! doce enlevo! oh! bem-aventurança!
Paradíseas manhãs! riso dos céus!
Inocência do amor e da esperança
Da natureza estremecida em Deus!
Visão celeste! angélica encarnada
Co'a nitente umidez d'ombros de leite,
Onde encontra amor brando, almo deleite,
E da infância do tempo a hora foi nada!
A claridade aumenta, a onda desliza,
Cintila co'o mais puro luzimento;
De púrpura, de ouro, a c'roa se matiza
Do tropical formoso firmamento!
Qual um vaso de fina porcelana
Que de através o sol alumiasse,
Qual os relevos da pintura indiana
É o oriente do dia quando nasce.
Uma por uma todas se apagaram
As estrelas, tamanhas e tão vivas,
Qual os olhos que lânguidas cativas,
Mal nutridas de amores, abaixaram.
Aclaram-se as encostas viridantes,
A espreguiçar-se a palma soberana;
Remonta a Deus a vida, à origem d'antes,
Amiga e matinal, donde dimana.
Acorda a terra; as flores da alegria
Abrem, fazem do leito de seus ramos
Sua glória infantil; alcion em clamos
Passa cantando sobre o cedro ao dia
Lindas loas boiantes; o selvagem
Cala-se, evoca doutro tempo um sonho,
E curva a fronte... Deus, como é tristonho
Seu vulto sem porvir em pé na margem!
Talvez a amante, a filha haja descido,
Qual esse tronco, para sempre o rio —
Ele abana a cabeça co'o sombrio
Riso do íris da noite entristecido.
(...)
Publicado no livro Impressos (1868/1869). Poema integrante da série Guesa Errante.
In: SOUSÂNDRADE. O Guesa. Londres: Cooke e Halsted, The Moorfields Press, 1888
NOTA: Poema inacabado, composto de 13 canto
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