Passeio público

Esguio, um corpo flutua
acima do bem e do mal
em noites de lua
cheia, roçando a pele morena
no vestido molhado
em tafetá.

Balançando vagarosamente
a favor do vento
- a favor de tudo que transcende a natureza
do belo -
caminha em direção
à praça Visconde de Irajá,
num andar cadenciado
que ateia fogo em apaixonadas
retinas,
inspira poetas instantâneos
- rimadores de ocasião -
ao mesmo tempo em que desapruma
olhares enfeitiçados
num gozo coletivo
que vai
explodindo em surdina.

O calor da noite evapora
sonhos
e desejos
assim que o doce
bailar da menina
desaparece sob uma chuva de pálpebras
se fechando,
- ulular de machos
inquietos -
rastreando
o cheiro da fêmea
que indiferente ao movimento
vai-se embora,
sumindo por aquela impassível
esquina.

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