Para Ana

Conta-me o que houve...
Explica-me o cenário...
Onde você anda?
Como é que foi?

Sim, deve estar tudo escrito.
Devias ter um livro preto de anotações
com este meu.

É verdade, o infinito e violeta?

Como um mergulho direto ao espírito
que te tragou e levou para longe
e nos deixou sem palavras.

Não gosto demais do concreto.
Não saberia fazê-lo
na tua acidez sulfúrea,
teus dentes, teus óculos escuros.
E os dedos... o calo da escrita.
A caibra de horas insones,
redigindo textos diretos,
sem retoques, sem gavetas,
sem embalagem, diretos,
secos e sulfúreos.

Deixa-me escrever um epitáfio,
não morto, nem eterno.
Um epitáfio mudo,
uma lembrança apenas,
apenas aquilo de lembrar.
Apenas aquilo de lembrar
e que sempre me lembre,
para a minha vida e morte,
fora das espécies comuns,
e ao mesmo tempo com tudo,
como o ar que expande,
como a água que adapta.
E toda a umidade de ambos...
E toda a melancolia de ambos...
Ana Cristina César.

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