Mário Cesariny
Mário Cesariny de Vasconcelos foi poeta e pintor, considerado o principal representante do surrealismo português. É de destacar também o seu trabalho de antologista, compilador e historiador das actividades surrealistas em Portugal.
1923-08-09 Lisboa, Portugal
2006-11-26 Lisboa
180696
15
252
O navio de espelhos
O navio de espelhos
não navega, cavalga
Seu mar é a floresta
que lhe serve de nível
Ao crepúsculo espelha
sol e lua nos flancos
(Por isso o tempo gosta
de deitar-se com ele)
Os armadores não amam
a sua rota clara
(Vista do movimento
dir-se-ia que pára)
Quando chega à cidade
nenhum cais o abriga
(O seu porão traz nada
nada leva à partida)
Vozes e ar pesado
é tudo o que transporta
(E no mastro espelhado
uma espécie de porta)
Seus dez mil capitães
têm o mesmo rosto
(A mesma cinta escura
o mesmo grau e posto)
Quando um se revolta
há dez mil insurrectos
(Como os olhos da mosca
reflectem os objectos)
E quando um deles ala
o corpo sobre os mastros
e escruta o mar do fundo
Toda a nave cavalga
(como no espaço os astros)
Do princípio do mundo
até ao fim do mundo
© 1965, Mário Cesariny
inA Cidade Queimada
Assírio & Alvim .
4356
1
Mais como isto
Ver também
Prémios e Movimentos
SurrealismoEL NAVIO DE ESPEJOS El navío de espejos El navío de espejos no navega, cabalga Su mar es la floresta que le sirve de nivel Al crepúsculo refleja sol y luna en los flancos (Por eso al tiempo le gusta acostarse con él) Los armadores no aman su clara derrota (Viendo el movimiento se diría que está quieto) Cuando llega a la ciudad ninguno puerto lo abriga (En sus bodegas nada trae nada lleva a la partida) Voces y aire pesado es todo lo que transporta (Y en el mástil deslumbrante una especie de puerta) Sus diez mil capitanes el mismo rostro tienen (La misma insignia oscura el mismo grado y puesto) Cuando uno se revela hay diez mil insurrectos (Como los ojos de la mosca reflejan los objetos) Y cuando uno de ellos iza el cuerpo sobre el mástil y escruta el mar al fondo Toda la nave cabalga (como en el Universo los astros) Desde el origen del mundo hasta el fin del mundo (karlotti, por placer, con humildad)
17/fevereiro/2016