Raquel Nobre Guerra
Formou-se em Filosofia pela Universidade Católica Portuguesa de Lisboa e tem mestrado em Estética e Filosofia da Arte pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Publicou Groto Sato (Mariposa Azul, 2012). O livro recebeu em Portugal o Prêmio PEN para obras de estreia.
Lisboa
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Bebo uma bica por dia
Bebo uma bica por dia, às vezes bebo-a fria
depois disto bem que podia morrer, diga-se
com as mãos ao redor de um pescoço amigo
quero dizer, de um livro.
Tenho o carácter objectivo de uma incompetência para a vida.
Sapato gordo, pé franzino, amor quase extinto.
Tanto nome derrotado às minhas mãos vazias.
Haverá certamente uma fórmula adequada
uma domesticidade última de perseverar
em ambas as condições: vivo e morto.
Ser imparcial a meia mão estendida
que frase estúpida para quem insiste
fazer de tudo fronteira com o absoluto.
A verdade é que na verdade não quero nada
como qualquer outra coisa que pudesse querer.
Refaço-me e peço a tal bica que me transfere
a atenção para a vocação de mendiga e altiva
no meu separado insulto ao grande cu do mundo.
Há uma mulher a mais aqui que se eu pudesse subia
e que me devolve o soco do anonimato
não há Buda que nos valha, menina, que fazer?
E eu vou ao café ainda assim para assegurar
que, pelo menos enquanto bebo, persisto
ou talvez seja Deus numa versão melhorada de mim.
depois disto bem que podia morrer, diga-se
com as mãos ao redor de um pescoço amigo
quero dizer, de um livro.
Tenho o carácter objectivo de uma incompetência para a vida.
Sapato gordo, pé franzino, amor quase extinto.
Tanto nome derrotado às minhas mãos vazias.
Haverá certamente uma fórmula adequada
uma domesticidade última de perseverar
em ambas as condições: vivo e morto.
Ser imparcial a meia mão estendida
que frase estúpida para quem insiste
fazer de tudo fronteira com o absoluto.
A verdade é que na verdade não quero nada
como qualquer outra coisa que pudesse querer.
Refaço-me e peço a tal bica que me transfere
a atenção para a vocação de mendiga e altiva
no meu separado insulto ao grande cu do mundo.
Há uma mulher a mais aqui que se eu pudesse subia
e que me devolve o soco do anonimato
não há Buda que nos valha, menina, que fazer?
E eu vou ao café ainda assim para assegurar
que, pelo menos enquanto bebo, persisto
ou talvez seja Deus numa versão melhorada de mim.
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