Carlos Drummond de Andrade
Carlos Drummond de Andrade foi um poeta, contista e cronista brasileiro, considerado por muitos o mais influente poeta brasileiro do século XX.
1902-10-31 Itabira do Mato Dentro, Minas Gerais, Brasil
1987-08-17 Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil
2466988
137
4086
Elegia a Um Tucano Morto
Ao Pedro
O sacrifício da asa corta o voo
no verdor da floresta. Citadino
serás e mutilado,
caricatura de tucano
para a curiosidade de crianças
e indiferenças de adultos.
Sofrerás a agressão de aves vulgares
e morto quedarás
no chão de formigas e de trapos.
Eu te celebro em vão
como à festa colorida mas truncada,
projeto da natureza interrompido
ao azar de peripécias e viagens
do Amazonas ao asfalto
da feira de animais.
Eu te registro, simplesmente,
no caderno de frustrações deste mundo
pois para isto vieste:
para a inutilidade de nascer.
O sacrifício da asa corta o voo
no verdor da floresta. Citadino
serás e mutilado,
caricatura de tucano
para a curiosidade de crianças
e indiferenças de adultos.
Sofrerás a agressão de aves vulgares
e morto quedarás
no chão de formigas e de trapos.
Eu te celebro em vão
como à festa colorida mas truncada,
projeto da natureza interrompido
ao azar de peripécias e viagens
do Amazonas ao asfalto
da feira de animais.
Eu te registro, simplesmente,
no caderno de frustrações deste mundo
pois para isto vieste:
para a inutilidade de nascer.
61560
30
Robson Silva
Encontrei esta versão como sendo completa, não tenho conhecimento para avaliar, compartilho aqui com vocês:
"Elegia a Um Tucano Morto"
de Carlos Drummond de Andrade
Tucano na sólida
pedra, sob o límpido
ar. Um corpo de leveza
e de sono. Nenhuma
pompa nele. As cores,
paradas, são humildes.
Nem parece ter sido
ave do espantoso voo,
ou seta arremessada
a muito longe, a ilhas
de grinaldas e rumos
desconhecidos.
Morreu
sem protesto e sem glória,
sem aquela oratória
dos pássaros pequenos
em torno. Agora, a curva
frágil do corpo mole
dentro da aridez branca,
despida de mistério
e de canto, repousa
só. É uma curva apenas,
não uma vida. É forma
que desiste e se apaga,
não mais um ser.
Talvez,
seu crime, seu imenso
pecado foi ser grande,
ser vasto de desenho
e de energia, quando
não precisa tanto
para viver.
O sacrifício da asa corta o voo
no verdor da floresta. Citadino
serás e mutilado,
caricatura de tucano
para a curiosidade de crianças
e indiferenças de adultos.
Sofrerás a agressão de aves vulgares
e morto quedarás
no chão de formigas e de trapos.
Eu te celebro em vão
como à festa colorida mas truncada,
projeto da natureza interrompido
ao azar de peripécias e viagens
do Amazonas ao asfalto
da feira de animais.
Eu te registro, simplesmente,
no caderno de frustrações deste mundo
pois para isto vieste:
para a inutilidade de nascer.
28/outubro/2024
Ricardo
Para Pedro seu neto. Na primeira estrofe o poeta fala da vinda do Tucano da floresta para a cidade "citadino serás", na cidade servirá para a curiosidade do homem e será maltratado como aves sem valor "caricatura de tucano" "sofrerás agressões de aves vulgares". Na segunda estrofe ele fala da interrupção do ciclo natural da vida do animal, que sai de seu habitat e tem a história mudada trazido para a cidade "projeto da natureza interrompido ao azar de peripécias e viagens" e por fim a história do animal é registrada em poema e eternizada pelo Poeta.
29/julho/2024
Amanda
Só com você consegui entender ! Agradecida ????
13/outubro/2024
Magno
Boa , gostei da explicação
01/novembro/2024
Amadeu
Entendi foi poh@ nenhuma
25/julho/2024
Lord
O poema conta a história real de um tucano que o neto do Drummond tinha de estimação. Numa briga com uma galinha o tucano acabou sendo mutilado e faleceu dias depois no aniversário do neto do poeta. Drummond então fez esse poema em dedicação ao neto. Seu último poema.
18/setembro/2024
Giselle
Sensacional. Ele de um tucano morto, transformou em um tucano eterno. Pra vida inteira do neto dele.
24/julho/2024
Plácido
Essa fala é do Igor Guimarães
09/agosto/2024
@Sousa
O tucano está eternizado mesmo se estivesse em extinção,hoje estamos lendo sobre o mesmo.??????
09/julho/2024
Asdc1995
Poema esse eternizado
07/julho/2024
@dannieloliveira
Sendo assim, um tucano morto, foi eternizado!
28/junho/2024
Silvio
Nasce o homem que empunha a arma, o Machado, o punhal. Nasce o homem e a mulher que empunham canetas... O lado sensível de cada ser humano é que não pode morrer.
21/junho/2024
Gustavo PAS
Gostei.
05/setembro/2024
Neves
Eu me pergunto: pra que o homem nasce? Se ele destrói a beleza deste mundo. Lindo poema, legado.
29/maio/2024
Zé lelé
Bem feito, quem mandou comprar o tucano.
11/novembro/2023
Nil
Em 1987 ainda se vendia animais silvestres em feiras.
25/junho/2024
Eleide
Genial!
31/agosto/2023