Passaram

Passaram como infâncias... águas... tais
como os aviões, avoantes, folhas secas,
manhãs de flores, tardes de pardais
e as falsificações de eternidades.

Que levaram, enfim? Toda essa gente
quis carregar alguma coisa, é certo:
planta que desce um galho sobre a rua
perde uma folha pra quem passa perto.

Passaram. Padres que não leram Bíblias,
Picassos que perderam seus pincéis,
astrônomos que olhavam para o chão.

Estiveram na escola, eram doutores.
E fica, indecifrada, a alma dos dias,
cartas de Deus que poucos sabem ler.

De O Povoamento da Solidão (1991)

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