José Saramago
José de Sousa Saramago foi um escritor, argumentista, teatrólogo, ensaísta, jornalista, dramaturgo, contista, romancista e poeta português. Foi galardoado com o Nobel de Literatura de 1998.
1922-11-16 Azinhaga, Golegã
2010-06-18 Tías, Espanha
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As pessoas estão sentadas numa paisagem de Dali com as sombras muito recortadas por causa de um sol que diremos parado
Quando o sol se move como acontece fora das pinturas a nitidez é menor e a luz sabe muito menos o seu lugar
Não importa que Dali tivesse sido tão mau pintor se pintou a imagem necessária para os dias de 1993
Este dia em que as pessoas estão sentadas na paisagem entre dois prumos de madeira que foram uma porta sem paredes para cima e para os lados
Não há portanto casa nem sequer a porta que poderia não abrir precisamente por não haver para onde abrir
Apenas o vazio da porta e não a porta
E as pessoas não se sabe quantas não foram contadas devem ser ao menos duas porque conversam levantam as golas dos casacos para se defenderem do frio
E dizem que o inverno do ano passado foi muito mais doce ou suave ou benigno embora a palavra seja antiga em 1993
Enquanto falam e dizem coisas importantes como esta
Uma das pessoas vai riscando no chão uns traços enigmáticos que tanto podem ser um retrato como uma declaração de amor ou a palavra que faltasse inventar
Vê-se agora que o sol afinal não estava parado e portanto a paisagem é muito menos daliniana do que ficou dito na primeira linha
E uma sombra estreita e comprida que é talvez de uma pedra aguda espetada no chão ou de um prumo distante de porta que já perdeu companhia e por isso não atrai as pessoas
Uma sombra estreita e comprida toca no dedo que risca a poeira do chão e começa a devorá-lo
Devagar passando aos ossos do metacarpo e depois subindo pelo braço devorando
Enquanto algumas pessoas continuam a conversar
E esta se cala porque tudo isto acontece sem dor e enquanto a noite desce
Quando o sol se move como acontece fora das pinturas a nitidez é menor e a luz sabe muito menos o seu lugar
Não importa que Dali tivesse sido tão mau pintor se pintou a imagem necessária para os dias de 1993
Este dia em que as pessoas estão sentadas na paisagem entre dois prumos de madeira que foram uma porta sem paredes para cima e para os lados
Não há portanto casa nem sequer a porta que poderia não abrir precisamente por não haver para onde abrir
Apenas o vazio da porta e não a porta
E as pessoas não se sabe quantas não foram contadas devem ser ao menos duas porque conversam levantam as golas dos casacos para se defenderem do frio
E dizem que o inverno do ano passado foi muito mais doce ou suave ou benigno embora a palavra seja antiga em 1993
Enquanto falam e dizem coisas importantes como esta
Uma das pessoas vai riscando no chão uns traços enigmáticos que tanto podem ser um retrato como uma declaração de amor ou a palavra que faltasse inventar
Vê-se agora que o sol afinal não estava parado e portanto a paisagem é muito menos daliniana do que ficou dito na primeira linha
E uma sombra estreita e comprida que é talvez de uma pedra aguda espetada no chão ou de um prumo distante de porta que já perdeu companhia e por isso não atrai as pessoas
Uma sombra estreita e comprida toca no dedo que risca a poeira do chão e começa a devorá-lo
Devagar passando aos ossos do metacarpo e depois subindo pelo braço devorando
Enquanto algumas pessoas continuam a conversar
E esta se cala porque tudo isto acontece sem dor e enquanto a noite desce
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