Charles Bukowski
poeta, contista e romancista estadunidense
1920-08-16 Andernach
1994-03-09 San Pedro
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Jovem Em Nova Orleans
morrendo de fome por ali, percorrendo os bares,
e à noite caminhando pelas ruas por
horas,
a luz do luar sempre me parecia
falsa, talvez fosse mesmo,
e no Bairro Francês eu via
passar os cavalos e as carroças,
todos sentados muito eretos nos carros
abertos, o motorista negro, e na
traseira o homem e a mulher,
frequentemente jovens e sempre brancos.
e eu estava sempre branco.
e muito pouco encantado com o
mundo.
Nova Orleans era um lugar onde se
esconder.
eu podia jogar fora a minha vida,
sem ser molestado.
exceto pelos ratos.
os ratos no meu quarto acanhado e escuro
profundamente ressentidos por terem de dividi-lo
comigo.
eles eram grandes e destemidos
e me encaravam com olhos
que comunicavam
sem pestanejar
uma ideia de morte.
as mulheres estavam fora do meu alcance.
viam em mim algo de
depravado.
havia uma garçonete
um pouco mais velha do que
eu, que esboçava um sorriso,
demorando-se ao me
trazer o
café.
aquilo me bastava,
era o
suficiente.
havia alguma coisa, porém,
naquela cidade:
ela não me deixava sentir culpa
por não ter sentimentos em relação às
coisas que tantos outros
precisavam.
ela me deixava em paz.
sentado em minha cama
as luzes apagadas,
ouvindo os sons que vinham
de fora,
erguendo a minha garrafa
de vinho barato,
deixando o calor
da uva
entrar
em mim
enquanto eu escutava os ratos
movendo-se ao redor do
quarto,
eu os preferia
aos
humanos.
estar perdido
quem sabe louco
não era tão mau
se você pudesse
ficar assim:
quieto no seu canto.
foi algo que Nova Orleans me
deu.
ninguém jamais chamou
meu nome.
nada de telefonemas,
nem carro,
nem emprego,
nada de
nada.
apenas eu e os
ratos
e minha juventude,
naquele tempo,
aquele tempo
eu sabia
mesmo através do
vazio,
era uma
celebração
não de algo a ser
feito
mas apenas
conhecido.
e à noite caminhando pelas ruas por
horas,
a luz do luar sempre me parecia
falsa, talvez fosse mesmo,
e no Bairro Francês eu via
passar os cavalos e as carroças,
todos sentados muito eretos nos carros
abertos, o motorista negro, e na
traseira o homem e a mulher,
frequentemente jovens e sempre brancos.
e eu estava sempre branco.
e muito pouco encantado com o
mundo.
Nova Orleans era um lugar onde se
esconder.
eu podia jogar fora a minha vida,
sem ser molestado.
exceto pelos ratos.
os ratos no meu quarto acanhado e escuro
profundamente ressentidos por terem de dividi-lo
comigo.
eles eram grandes e destemidos
e me encaravam com olhos
que comunicavam
sem pestanejar
uma ideia de morte.
as mulheres estavam fora do meu alcance.
viam em mim algo de
depravado.
havia uma garçonete
um pouco mais velha do que
eu, que esboçava um sorriso,
demorando-se ao me
trazer o
café.
aquilo me bastava,
era o
suficiente.
havia alguma coisa, porém,
naquela cidade:
ela não me deixava sentir culpa
por não ter sentimentos em relação às
coisas que tantos outros
precisavam.
ela me deixava em paz.
sentado em minha cama
as luzes apagadas,
ouvindo os sons que vinham
de fora,
erguendo a minha garrafa
de vinho barato,
deixando o calor
da uva
entrar
em mim
enquanto eu escutava os ratos
movendo-se ao redor do
quarto,
eu os preferia
aos
humanos.
estar perdido
quem sabe louco
não era tão mau
se você pudesse
ficar assim:
quieto no seu canto.
foi algo que Nova Orleans me
deu.
ninguém jamais chamou
meu nome.
nada de telefonemas,
nem carro,
nem emprego,
nada de
nada.
apenas eu e os
ratos
e minha juventude,
naquele tempo,
aquele tempo
eu sabia
mesmo através do
vazio,
era uma
celebração
não de algo a ser
feito
mas apenas
conhecido.
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