Charles Bukowski

Charles Bukowski

poeta, contista e romancista estadunidense

1920-08-16 Andernach
1994-03-09 San Pedro
862618
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Alguns Poemas

Amor Esmagado Como Mosca Morta

em muitos sentidos
eu tinha topado com uma época de sorte
mas ainda estava vivendo nesta
quadra devastada por bomba da
avenida.
eu batalhara meu caminho atravessando
várias camadas de
adversidade:
sendo um homem sem educação
com
sonhos loucos e desvairados –
alguns deles haviam
evoluído (quer dizer, se
você vai ficar aqui,
você pode muito bem lutar
pelo milagre).
mas
de uma hora pra outra
como acontece nesses assuntos –
a mulher que eu amava
se largou
e começou a
trepar
pelos arredores
com
estranhos
imbecis
e provavelmente alguns tipos razoavelmente
bons
mas
como acontece nesses assuntos –
foi sem
aviso
e acompanhado da
lastimável e maçante languidez da
descrença
e
daquele doloroso e descerebrado
engalfinhamento.
e também
na mudança das
marés
eu me saí
com um furúnculo imenso
quase
do tamanho de uma maçã, bem, meia
maçã pequena
mas mesmo assim
uma monstruosidade de
horror.
tirei o telefone
da parede
tranquei a porta
fechei as cortinas e
bebi
só pra passar o tempo
dia e noite, fiquei
louco, provavelmente,
mas
num sentido
delicioso e
estranho.
encontrei um disco antigo
botei pra tocar
repetidas vezes –
com certo trecho ribombante da
tonalidade
se encaixando perfeitamente na minha
gaiola
meu lugar
meu
desencanto –
amor morto como uma mosca
esmagada,
eu remexia o passado e
especulava por entre minha
idiotice, constatando que enquanto
ser
eu poderia ter sido
melhor –
não com ela
mas com
o balconista da mercearia
o jornaleiro da esquina
o gato de rua
o bartender
e/ou
etc.
continuamos ficando
aquém e
mais aquém
mas
em última análise
não somos tão terríveis
assim, então
arranjamos uma namorada que
sai trepando
pelos arredores
e
um furúnculo quase com tamanho de
maçã.
recordando então
as chances
recusadas,
algumas de criaturas
adoráveis (naquele
momento)
não muitas
mas algumas
trepadas
recusadas
em honra
dela.
ah, redenção e
remorso!
e a garrafa
e o disco
tocando repetidas
vezes –
babaca, babaca, ba-
baca, seja duro como o
mundo,
prepare-se para
a desintegração –
que disco era aquele
enquanto você esbarrava na cerveja e
nas garrafas de uísque
os calções
as camisas
as memórias
estupeficadas pelo
quarto.
você despertou daquilo
duas semanas depois
para encontrá-la
na soleira da sua porta
às 9 horas
da manhã
cabelo cuidadosamente
arrumado,
sorrindo
como se todos os acontecimentos
tivessem sido
apagados.
ela era só
uma vadia
burra
jogadora
tendo experimentado os
outros e
os considerado (de
uma forma ou de
outra)
insuficientes
ela estava
de volta (ela
pensava)
enquanto você lhe servia uma
cerveja e
entornava o scotch
no seu copo
anterior
recordando
precisamente e para sempre
os sons daquele disco
escutado sem
parar:
a dádiva dela
terminara, novos
fracassos estavam prestes a
começar
enquanto ela cruzava suas longas
pernas
fazia aquele sorriso
sorrir
e perguntava,
alegre, “bem, o que você
andou
fazendo?”

O Chuveiro

gostamos de um banho depois da função
(gosto da água mais quente do que ela)
e seu rosto está sempre suave e pacífico
e ela me lavará primeiro
espalhará sabonete sobre minhas bolas
erguerá as bolas
as esfregará
depois lavará meu pau:
“ei, essa coisa ainda está dura!”
então pegará nos pelos lá embaixo –
na barriga, nas costas, no pescoço, nas pernas,
eu sorrio, sorrio, sorrio,
e então eu a lavarei...
primeiro a buceta
ficarei atrás dela, meu pau entre sua bunda
ensaboarei com gentileza seus pentelhos,
lavarei tudo ali com movimentos sutis,
uma demora talvez mais longa que o necessário,
então a parte de trás das suas coxas, seu rabo,
as costas, o pescoço, para depois virá-la, beijá-la,
ensaboar os seios, tomando-os e depois a barriga, o pescoço,
a parte da frente das pernas, os tornozelos, os pés,
e então a buceta, mais uma vez, para a boa sorte...
mais um beijo, e ela sairá primeiro,
enxugando-se, algumas vezes cantando enquanto eu permaneço lá dentro
abrindo ainda mais a torneira quente
sentindo a bonança do milagre do amor
para só depois sair...
isto ocorre normalmente no meio da tarde e tudo está tranquilo,
e ao nos vestirmos falamos sobre o que ainda há
para ser feito
mas por estarmos juntos quase tudo está resolvido,
de fato, tudo está resolvido,
e pelo tempo em que essas coisas estiverem resolvidas
na história da mulher e
do homem, será diferente para cada um
melhor e pior para cada um –
para mim, é esplêndido o suficiente para lembrar
superando os exércitos que marcham
os cavalos que cruzam as ruas lá fora
superando as memórias da dor e da derrota e da infelicidade:
Linda, você trouxe isso pra mim,
quando me for tirá-lo
faça-o bem devagar e de mansinho
faça-o como se eu estivesse morrendo entre sonhos e não de
olhos abertos, amém.

Dee Dee tinha uma casa em Hollywood Hills. Dividia o lugar com uma amiga, também uma executiva, chamada Bianca. Bianca morava no andar de cima, Dee Dee, no de baixo. Toquei a campainha. Eram oito e meia quando ela abriu a porta. Dee Dee tinha uns quarenta anos, cabelo preto, batido, era judia, descolada, estranha. Estava voltada para Nova York, conhecia todos os nomes: os bons editores, os melhores poetas, os cartunistas mais talentosos, os grandes revolucionários, qualquer um, todo mundo. Fumava maconha sem parar e agia como se estivesse no início dos anos 1960 e em plena vigência do Paz e Amor, quando ela fora razoavelmente famosa e muito mais bonita.
Uma longa série de complicados casos amorosos liquidou-a. Agora, lá estava eu à sua porta. Seu corpo ainda dava para o gasto. Ela era pequena, mas tinha um aspecto saudável e muitas garotas gostariam de ter o seu físico.
Entrei atrás dela.
– Então a Lydia se mandou? – perguntou Dee Dee.
– Acho que ela foi para Utah. O baile do Quatro de Julho em Muleshead está chegando. Ela nunca perde.
Sentei junto à mesa da cozinha enquanto Dee Dee abria uma garrafa de vinho tinto.
– Está com saudades dela?
– Claro que sim. Tenho vontade de chorar. Estou com um nó aqui dentro. Acho que não vou me recuperar.
– Vai sim. Vamos dar um jeito de superar Lydia. Tudo passa.
– Então você sabe como estou me sentindo?
– Já aconteceu com todos nós algumas vezes.
– A cadela nunca ligou a mínima para mim.
– Bobagem. Ela ainda liga sim.
Decidi que era melhor estar ali, no casarão de Dee Dee em Hollywood Hills, do que sozinho em meu apartamento ruminando.
– Deve ser porque eu não sou bom para as mulheres – eu disse.
– Você é bom o bastante com as mulheres – disse Dee Dee. – Além de ser um puta escritor.
– Preferia me dar bem com as mulheres.
Dee Dee estava acendendo um cigarro. Esperei-a terminar, me inclinei sobre a mesa e lhe dei um beijo.
– Você me faz sentir bem. Lydia estava sempre na ofensiva.
– Isso não significa o que você acha que significa.
– Mas pode se tornar bastante desagradável.
– Certamente, um inferno.
– Você já encontrou um namorado?
– Ainda não.
– Gosto desse lugar. Mas como consegue manter tudo tão limpo e arrumado?
– Temos uma empregada.
– Ah, é?
– Você vai gostar dela. Ela é uma negra bem grande e trabalha a toda velocidade assim que eu saio, para acabar logo o serviço. Então vai para a minha cama e fica vendo tevê e comendo biscoito. Todas as noites encontro farelo de biscoito na cama. Vou pedir pra ela preparar um café da manhã pra você, antes de eu sair amanhã de manhã.
– Beleza.
– Não, espere. Amanhã é domingo. Não trabalho aos domingos. Vamos comer fora. Conheço um lugar. Você vai gostar.
– Beleza.
– Sabe, acho que sempre fui apaixonada por você.
– O que?
– Há anos. Sabe, quando eu costumava visitar você, primeiro com Bernie, depois com Jack, eu já o desejava. Mas você nunca me notou. Estava sempre mamando numa lata de cerveja, ou então obcecado por alguma coisa.
– Demência – eu acho –, demência total. Chamam de demência do serviço postal. Desculpe eu não ter notado você.
– Pode começar a se recuperar agora.
Dee Dee serviu mais uma taça de vinho. Coisa fina. Eu gostava dela. Era bom ter um lugar para onde ir quando tudo mais dava errado. Me lembrei de antigamente, quando as coisas ficavam feias e eu não tinha para onde ir. Talvez isso até tenha sido bom para mim. Naquela época. Mas agora não queria saber do que tinha sido bom ou mau. Importava o momento, o que estava sentindo e o que fazer para parar de me sentir mal quando as coisas dessem errado. Como voltar a me sentir bem.
– Não quero jogar com seus sentimentos, Dee Dee – eu disse. – Nem sempre sou bom para as mulheres.
– Já disse que te amo.
– Não faça isso. Não me ame.
– Está bem – ela disse –, não vou te amar. Vai ser um quase amor. Que tal?
– É uma proposta muito melhor que a anterior.
Acabamos nosso vinho e fomos para cama...
– Mulheres

Você e a Sua Cerveja e o Quão Maravilhoso você é

Jack entrou e encontrou o maço de cigarros junto à lareira. Ann estava no sofá lendo um exemplar da Cosmopolitan. Jack acendeu um cigarro e sentou-se. Faltavam dez minutos para a meia-noite.
– Charley disse para você não fumar – disse Ann, levantando os olhos da revista.
– Mereço um cigarro. Esta noite foi dura.
– Ganhou?
– Não foi unânime, mas ganhei. Benson era um cara duro, muita coragem. Charley disse que Parvinelli é o próximo. Ganhando do Parvinelli, ganhamos o campeonato.
Jack se levantou, foi até a cozinha, voltou com uma garrafa de cerveja.
– Charley me disse pra manter você longe da cerveja – disse Ann enquanto baixava a revista.
– Charley disse isso, Charley disse aquilo... Estou cansado disso. Ganhei a luta. Ganhei dezesseis seguidas, tenho direito a um cigarro e a uma cerveja.
– Tem de manter a forma.
– Não importa. Surro qualquer um deles.
– Você é tão bom... Quando você se embebeda, tenho que ficar ouvindo “como você é bom”. É de dar nos nervos.
– Eu sou bom. Dezesseis seguidas, quinze nocautes. Quem é melhor?
Ann não respondeu. Jack levou sua garrafa de cerveja e seu cigarro para o banheiro.
– Você nem me deu um beijo ao chegar. A primeira coisa que você fez foi pegar a sua garrafa de cerveja. Tão bom, certo. Um bom bebedor de cerveja.
Jack não respondeu. Cinco minutos mais tarde, apareceu em pé na porta do banheiro, com as calças e os calções pelos tornozelos.
– Pelo amor de Deus, Ann, não dá pra deixar nem um rolo de papel higiênico aqui?
– Desculpa.
Foi até o armário e levou um rolo para ele. Jack terminou o serviço e saiu. Então terminou sua cerveja e pegou outra.
– Aqui está você, vivendo com o melhor peso médio do mundo e tudo que faz é reclamar. Um monte de garotas gostaria de estar aqui comigo, e tudo que você faz é ficar sentada e reclamar.
– Sei que você é bom, Jack, talvez até seja o melhor, mas você não faz ideia de como é entediante ficar sentada e ouvir você dizer mais e mais uma vez o quão maravilhoso você é.
– Oh, então você está entediada, é isso?
– Sim, porra, você e a sua cerveja e o quão maravilhoso você é.
– Diga o nome de um peso médio que seja melhor. Você nem mesmo vai às minhas lutas.
– Existem outras coisas além de lutar, Jack.
– Como o quê? Passar o dia com essa bunda no sofá lendo Cosmopolitan?
– Gosto de exercitar a mente.
– E deveria. Tem muito ainda pra progredir nesse terreno.
– Estou dizendo que existem outras coisas além de lutar.
– Como o que, por exemplo?
– Bem, arte, música, pintura, coisas desse tipo.
– E você sabe fazer alguma delas?
– Não, mas aprecio.
– Merda, prefiro ser o melhor no que estou fazendo.
– Bom, melhor, o único... Deus, você não consegue apreciar as pessoas pelo que elas são?
– Pelo que elas são? O que a maioria delas é? Lesmas, sanguessugas, dândis, dedos-duros, cafetões, empregados...
– Você está sempre rebaixando os outros. Nenhum dos seus amigos é bom o suficiente. Você é o fodão!
– Isso mesmo, boneca.
Jack foi até a cozinha e voltou com outra cerveja.
– Você e a sua maldita cerveja!
– É um direito meu. Eles vendem. Eu compro.
– Charley disse...
– Quero que Charley se foda!
– Você é o melhor!
– Isso mesmo. Pelo menos Pattie sabia disso. Ela admitia e se orgulhava. Sabia o que isso custava. Tudo que você faz é reclamar.
– Bem, por que você não volta pra ela? O que está fazendo aqui comigo?
– Era bem nisso que estava pensando.
– Bem, não somos casados, posso ir embora a qualquer hora.
– Isso é o que está nos fodendo. Merda, chego aqui morto de cansado depois de uma luta dura de dez assaltos, e você nem mesmo fica feliz por eu ter vencido. Tudo que você faz é reclamar de mim.
– Escute, Jack, existe mais na vida além de lutar. Quando o conheci, admirei-o pelo que você era.
– Eu era um lutador. Não existe nenhuma outra coisa além de lutar. Isso é o que sou: um lutador. Essa é a minha vida e sou bom nisso. O melhor. Noto que você sempre simpatiza com os lutadores de segunda classe... como Toby Jorgenson.
– Toby é muito engraçado. Tem um senso de humor, um senso de humor de verdade. Gosto do Toby.
– Sua marca são nove vitórias, apenas cinco por nocaute e uma derrota. Dou uma surra nele mesmo podre de bêbado.
– E Deus sabe que você fica podre de bêbado frequentemente. Como você acha que me sinto nas festas quando você está caindo de bêbado, rolando no chão, quando não está se gabando pela sala, dizendo pra todo mundo “SOU O MELHOR, O MELHOR, O MELHOR DE TODOS!”? Não acha que isso faz com que eu me sinta um cu?
– Talvez você seja um cu mesmo. Se gosta tanto do Toby, por que não vai ficar com ele?
– Ah, só disse que gostava dele, achei ele engraçado, isso não quer dizer que quero ir para a cama com ele.
– Bem, você vai pra cama comigo e diz que sou entediante. Não sei o que diabos você quer.
Ann não respondeu. Jack se levantou, caminhou até o sofá, ergueu a cabeça de Ann e beijou-a, retornou ao seu lugar e se sentou.
– Escute, deixe-me contar sobre essa luta com o Benson. Até você teria ficado orgulhosa de mim. Ele me derruba no primeiro assalto, uma direita perigosa. Levanto e o seguro o resto do assalto. Caio outra vez no segundo assalto e quase não consigo me levantar quando a contagem já estava em oito. Seguro ele outra vez. Uso alguns dos assaltos seguintes para recuperar minhas pernas. Ganho o sexto, o sétimo e o oitavo assaltos, derrubo ele uma vez no nono e duas vezes no décimo. Não acho que era luta para decidir nos pontos. Mas os juízes acharam que era. Venci, mas não foi unânime. Bem, são 45 mil, entende, garota? Quarenta e cinco mil. Sou ótimo. Não dá pra negar. Sou muito bom. Dá pra negar?
Ann não respondeu.
– Vamos, diz que eu sou o melhor.
– Está bem, você é o melhor.
– Bem, começamos a nos entender.
Jack caminhou até ela e a beijou novamente.
– Sinto que sou tão bom. Boxe é uma obra de arte, realmente é. É preciso ter coragem para ser um grande artista e é preciso ter coragem pra ser um bom lutador.
– Tudo bem, Jack.
– Tudo bem, Jack? É tudo que você tem a dizer? Pattie costumava ficar feliz quando eu ganhava. Ficávamos ambos felizes a noite inteira. Você não pode compartilhar algo de bom que eu fiz? Porra, você está apaixonada por mim ou está apaixonada pelos perdedores, aqueles merdas? Acho que você seria mais feliz se eu chegasse aqui como perdedor.
– Quero que você vença, Jack, é só que você põe muita ênfase no que faz...
– Porra, é o meu sustento, minha vida. Me orgulho de ser o melhor. É como voar, é como sair voando pelo céu espancando o sol.
– O que você vai fazer quando não puder mais lutar?
– Porra, vamos ter bastante dinheiro para fazer o que quisermos.
– Menos nos dar bem, talvez.
– Talvez eu possa aprender a ler Cosmopolitan, melhorar minha mente.
– Bem, há espaço para melhorias.
– Vai se foder!
– Quê?
– Vai se foder!
– Bem, é algo que você não faz já há algum tempo.
– Alguns caras gostam de foder mulheres que não param de reclamar, eu não gosto.
– Imagino que Pattie não reclamava?
– Todas reclamam, mas você é a campeã.
– Bem, por que não volta para Pattie?
– Você está aqui agora. Só posso hospedar uma puta de cada vez.
– Puta?
– Puta.
Ann se levantou e foi até o armário, pegou sua mala e começou a guardar suas roupas ali. Jack foi até a cozinha e pegou outra garrafa de cerveja. Ann estava chorando, tomada de fúria. Jack sentou com a cerveja e tomou um bom gole. Precisava de um uísque, precisava de uma garrafa de uísque. E de um bom charuto.
– Posso vir pegar o resto das minhas coisas quando você não estiver por aqui.
– Não se preocupe. Mando pra você.
Ela parou junto à porta.
– Bem, imagino que seja o fim – ela disse.
– Creio que sim – respondeu Jack.
Ela fechou a porta e se foi. Procedimento padrão. Jack terminou sua cerveja e foi até o telefone. Discou o número de Pattie. Ela atendeu.
– Pattie?
– Oi, Jack, como tem passado?
– Ganhei uma grande essa noite. Não foi unânime. Tudo que tenho que fazer é passar por cima do Parvinelli e levo o campeonato.
– Vai acabar com a raça deles, Jack. Sei que você consegue.
– O que vai fazer essa noite, Pattie?
– É uma da manhã, Jack. Andou bebendo?
– Um pouco. Estou comemorando.
– E Ann?
– Brigamos. Só ando com uma mulher por vez, você sabe disso, Pattie.
– Jack...
– Quê?
– Estou com um cara.
– Um cara?
– Toby Jorgenson. Ele está no banheiro...
– Oh, sinto muito.
– Também sinto muito, Jack. Eu amava você... talvez ainda ame.
– Merda, vocês mulheres gostam mesmo de jogar essa palavra por aí...
– Sinto muito, Jack.
– Tudo bem.
Ele desligou. Então foi até o armário pegar seu casaco. Vestiu, terminou a cerveja, desceu o elevador e foi até o carro. Dirigiu pela Normandie a cem quilômetros por hora, parou na loja de bebidas na Hollywood Boulevard. Saiu do carro e entrou na loja. Comprou um pacote de cerveja de seis garrafas Michelob, uma caixa de Alka-Seltzer. Então, no caixa, pediu ao funcionário por uma garrafa de Jack Daniels. Enquanto o funcionário estava somando as compras, um bêbado entrou com dois pacotes de seis cervejas Coors.
– Ei, cara! – ele disse a Jack. – Você não é Jack Backenweld, o lutador?
– Sou – respondeu Jack.
– Cara, vi a sua luta essa noite, Jack, você tem colhões. Você é realmente bom!
– Obrigado, cara – respondeu ao bêbado e então pegou sua sacola de compras e caminhou para o carro. Sentou lá, abriu a tampa do Daniels e tomou um bom trago. Então voltou, dirigiu em alta velocidade no sentido oeste, de volta pela Hollywood, dobrou a esquerda na Normandie e notou uma garota nova e bem feita de corpo cambaleando pela rua. Parou o carro, pegou a garrafa de uísque e mostrou a ela.
– Quer uma carona?
Jack ficou surpreso quando ela entrou.
– Vou ajudar você a beber isso, senhor, mas nada além disso.
– Claro que não – disse Jack.
Desceu a Normandie a sessenta quilômetros por hora, um respeitado cidadão, o terceiro melhor peso médio no ranking mundial. Por um momento sentiu vontade de contar para ela com quem estava andando, mas mudou de ideia e estendeu a mão para apalpar um dos joelhos dela.
– Você tem um cigarro, senhor? – ela perguntou.
Ele ofereceu rapidamente um cigarro com a mão, acionou o isqueiro do painel, que saltou para fora, e então acendeu o fogo para ela.
– Ao sul de lugar nenhum

Enganando Marie

Era uma noite quente nas corridas de quarto de milha. Ted chegara trazendo duzentos dólares e agora, entrando no quarto páreo, estava com 530. Conhecia os cavalinhos. Talvez não fosse muito bom em nada mais, mas conhecia os cavalinhos. Ted ficou olhando o placar e as pessoas. Elas não tinham a menor capacidade para avaliar um cavalo. Mas mesmo assim trazem o seu dinheiro e seus sonhos para as pistas. O hipódromo tinha uma dupla de dois dólares em quase toda corrida para atraí-los. Isso e o Pick-6. Ted jamais escolhia o Pick-6 nem as duplas. Só a vitória direta no melhor cavalo, que não era necessariamente o favorito.
Marie enchia tanto o saco sobre sua ida às corridas que ele só ia duas ou três vezes por semana. Vendera sua empresa e se aposentara cedo do ramo da construção. Na verdade não havia muito mais coisas que ele pudesse fazer.
Os quatro cavalos pareciam bons a seis por um, mas ainda havia dezoito minutos para a chegada. Sentiu um puxão na manga do paletó.
– Perdão, senhor, mas eu perdi nas duas primeiras corridas. Vi o senhor trocando suas pules. O senhor parece exatamente um cara que sabe o que está fazendo. Quem prefere nessa próxima corrida?
Era uma ruiva, de uns 24 anos, quadris estreitos, seios surpreendentemente grandes, pernas compridas, um lindo narizinho arrebitado, boca de flor, usando um vestido azul-claro e sapatos brancos de saltos altos. Os olhos azuis dela olhavam-no de baixo para cima.
– Bem – sorriu-lhe Ted –, eu geralmente prefiro o vencedor.
– Estou acostumada a jogar em puros-sangues – disse a ruiva. – Esses páreos de quarto de milha são muito rápidos!
– É. A maioria é corrida em menos de dezoito segundos. A gente descobre muito rápido se acertou ou errou.
– Se minha mãe descobrisse que estou aqui perdendo meu dinheiro, ela me daria uma surra de cinto.
– Eu mesmo gostaria de lhe dar uma surra de cinto – disse Ted.
– Você não é desses, é? – ela perguntou.
– Brincadeira – disse Ted. – Vamos, vamos ao bar. Talvez a gente consiga escolher um vencedor pra você.
– Tudo bem, senhor...?
– Pode me chamar de Ted. E você, como se chama?
– Victoria.
Entraram no bar.
– Que vai tomar? – perguntou Ted.
– O que você tomar – disse Victoria.
Ele pediu dois Jack Daniels. De pé, ele virou o seu, e ela bebericou o dela, olhando direto em frente. Ted conferiu o traseiro dela: perfeito. Era melhor do que muita candidatazinha ao estrelato no cinema, e não parecia mimada.
– Agora – disse Ted, apontando seu programa – na próxima corrida o cavalo quatro aparece melhor, e está dando possibilidades de seis por um...
Victoria exalou um “Ooohhh...?” muito sexy. Curvou-se para olhar o programa dele, tocando-o com o braço. Depois ele sentiu a perna dela comprimir-se contra a sua.
– As pessoas não sabem avaliar uma corrida – ele disse. – Me mostre um cara que sabe avaliar uma corrida, que eu lhe mostro um cara que pode ganhar todo o dinheiro que possa levar.
Ela sorriu para ele.
– Eu queria ter o que você tem.
– Você tem muita coisa, boneca. Quer outra bebida?
– Oh, não, obrigada...
– Bem, escuta – disse Ted –, é melhor fazermos as apostas.
– Tudo bem, vou apostar dois dólares no vencedor. Qual é, o cavalo número quatro?
– É, boneca, é o quatro...
Fizeram suas apostas e saíram para assistir ao páreo. O quatro não largou bem, foi abalroado de ambos os lados, endireitou-se, ficou em quinto num campo de nove, mas aí começou a acelerar e chegou à linha cabeça a cabeça com o favorito de dois a um. Foto.
Porra, pensou Ted, eu tenho de ganhar essa. Por favor, me dê essa!
– Oh – disse Victoria –, estou tão excitada!
O placar anunciou o número. Quatro.
Victoria gritou e pulou de alegria.
– Nós ganhamos, nós ganhamos, nós GANHAMOS!
Agarrou Ted e ele sentiu o beijo no rosto.
– Vá com calma, boneca, o melhor cavalo venceu, só isso.
Esperaram o aviso oficial e aí o placar exibiu o pagamento. Quatorze dólares e sessenta.
– Quanto você apostou? – perguntou Victoria.
– Quarenta no vencedor – disse Ted.
– Quanto vai receber?
– Duzentos e noventa e dois. Vamos pegar.
Dirigiram-se para os guichês. Então Ted sentiu a mão de Victoria na sua. Ela o fez parar.
– Se abaixe – ela disse –, que eu quero dizer uma coisa em seu ouvido.
Ted abaixou-se, sentiu os frios lábios róseos dela em sua orelha.
– Você é um... mágico... Eu quero... foder com você...
Ele ficou ali parado sorrindo debilmente para ela.
– Deus do céu – disse.
– Que é que há? Está com medo?
– Não, não, não é isso.
– Que é que há então?
– É Marie... minha esposa... eu sou casado... e ela me controla no mínimo minuto. Sabe quando as corridas acabam e quando devo chegar.
Victoria deu uma risada.
– A gente sai agora! Vamos a um motel!
– Bem, claro – disse Ted...
Trocaram as pules e voltaram para o estacionamento.
– Vamos no meu carro. Eu trago você de volta quando a gente acabar – disse Victoria.
Foram ao carro dela, um Fiat azul 1982, combinando com o vestido. A placa dizia VICKY. Quando ela pôs a chave na porta, hesitou.
– Você não é mesmo um daqueles, é?
– Daqueles quais?
– Que batem com o cinto, um daqueles. Minha mãe teve uma experiência terrível uma vez...
– Relaxe – ele disse. – Eu sou inofensivo.
Encontraram um motel a pouco mais de dois quilômetros do hipódromo. O Lua Azul. Só que a Lua Azul estava pintada de verde. Victoria estacionou e saltaram, se registraram, deram-lhes o quarto 302. Tinham parado para pegar uma garrafa de Cutty Sark no caminho.
Ted rasgou a embalagem de celofane dos copos, acendeu um cigarro e serviu duas doses enquanto Victoria se despia. A calcinha e o sutiã eram cor-de-rosa, e o corpo cor-de-rosa e branco e lindo. Era espantoso como de vez em quando se criava uma mulher daquelas, quando todas as outras, a maioria das outras, não tinham nada, ou quase nada. Era de enlouquecer. Victoria era um sonho lindo, enlouquecedor.
Victoria estava nua. Aproximou-se e sentou-se na borda da cama junto a Ted. Cruzou as pernas. Tinha os seios firmes e parecia já estar com tesão. Ele realmente não acreditava em sua sorte. Aí ela deu uma risadinha.
– Que foi? – ele perguntou.
– Está pensando em sua mulher?
– Bem, não, estava pensando em outra coisa.
– Bem, devia pensar em sua mulher...
– Diabos – disse Ted –, foi você quem sugeriu a foda!
– Eu gostaria que você não usasse essa palavra...
– Está recuando?
– Bem, não. Escuta, tem um cigarro?
– Claro...
Ted pegou um, entregou a ela, acendeu-o e ela o manteve na boca.
– Você tem o corpo mais lindo que eu já vi – disse Ted.
– Eu não duvido – ela disse, sorrindo.
– Escuta, você está recuando dessa coisa? – ele perguntou.
– Claro que não – ela respondeu –, tire a roupa.
Ted começou a despir-se, sentindo-se gordo, velho e feio, mas também sortudo – tinha sido seu melhor dia nas corridas, em muitos aspectos. Dobrou suas roupas numa cadeira e sentou-se junto a Victoria.
Serviram mais um drinque para cada um.
– Sabe – ele disse –, você é um número de classe, mas eu também sou. Nós dois temos nossa própria maneira de mostrar isso. Eu faturei uma nota no ramo da construção, e ainda estou faturando nas corridas. Nem todo mundo tem esse instinto.
Victoria bebeu metade de seu Cutty Sark e sorriu para ele.
– Oh, você é meu grande Buda gordo!
Ted enxugou a sua bebida.
– Escuta, se você não quiser, a gente não faz. Esqueça.
– Me deixa ver o que é que Buda tem aí...
Victoria baixou o braço e enfiou a mão entre as pernas dele. Pegou-o, segurou-o.
– Oh, oh... estou sentindo uma coisa... – disse.
– Claro... E daí?
Então ela baixou a cabeça. Beijou-o a princípio. Depois ele sentiu que ela abria a boca, e a língua.
– Sua puta! – disse.
Victoria ergueu a cabeça e olhou-o.
– Por favor. Eu não gosto de palavrão.
– Tudo bem, Vicky, tudo bem. Nada de palavrão.
– Se meta entre os lençóis, Buda.
Ted se meteu e sentiu o corpo dela junto ao seu. A pele era fria, e a boca abriu-se e ele a beijou e enfiou a língua. Gostava daquilo assim, fresco, com o frescor da primavera, jovem, novo, bom. Que prazer do caralho. Ia lascar ela ao meio! Masturbou-a, ela demorou muito para gozar. Depois ele a sentiu abrir-se e enfiou o dedo. Pegara-a, a puta. Puxou o dedo e esfregou o clitóris. Você quer aquecimento, vai ter aquecimento!, pensou.
Sentiu os dentes dela enterrarem-se em seu lábio inferior, a dor foi terrível. Ted afastou-se, sentindo o gosto do sangue e a ferida no lábio. Ergueu-se pela metade e deu-lhe um tapa no rosto, depois com as costas da mão no outro lado. Encontrou-a lá embaixo, enfiou e estocou, pondo a boca de volta na dela. Prosseguiu em selvagem vingança, de vez em quando recuando a cabeça e olhando-a. Tentou segurar, se conter, e agora via aquela nuvem de cabelos cor de morango espalhados no travesseiro ao luar.
Ted gemia e suava como um ginasiano. Era aquilo. Nirvana. O lugar a se alcançar. Victoria continuava calada. Os gemidos de Ted foram diminuindo, e então, após um instante, ele rolou para o lado.
Ficou fitando a escuridão.
Esqueci de chupar os peitos dela, pensou.
Então ouviu a voz dela.
– Sabe de uma coisa? – ela perguntou.
– Que é?
– Você me lembra um daqueles cavalos de quarto de milha.
– Que quer dizer?
– Tudo acaba em dezoito segundos.
– A gente corre de novo, boneca – ele disse...
Ela foi ao banheiro. Ted limpou-se no lençol, o velho profissional. Victoria era uma coisa meio desagradável, de certa forma. Mas podia ser manobrada. Ele tinha alguma coisa. Quantos homens eram donos de sua própria casa e tinham 150 mil paus no banco na sua idade? Ele era um número de classe, e ela sabia disso muito bem.
Victoria saiu do banheiro ainda parecendo fresca, intocada, quase virginal. Ted acendeu o abajur de cabeceira. Sentou-se e serviu dois drinques. Ela sentou-se na beira da cama com sua bebida e ele desceu e sentou-se na beira da cama junto dela.
– Victoria – disse –, posso tornar tudo bom pra você.
– Acho que você tem lá seus meios, Buda.
– E vou ser um amante melhor.
– Claro.
– Escuta, devia ter me conhecido quando eu era jovem. Era durão, mas bom. Eu tinha aquilo. Ainda tenho.
Ela sorriu para ele.
– Ora, vamos, Buda, não é tão ruim assim. Você tem uma esposa, você tem um monte de coisas a seu favor.
– Menos uma coisa – ele disse, enxugando sua bebida e olhando-a. – Menos a única coisa que eu quero mesmo...
– Veja o seu lábio! Está sangrando!
Ted baixou o olhar para seu copo. Viu gotas de sangue na bebida e sentiu o sangue escorrendo pelo queixo. Limpou o queixo com as costas da mão.
– Vou ao banheiro lavar isso, boneca, já volto.
Entrou no banheiro, correu a porta do chuveiro e abriu a água, testando-a com a mão. Parecia mais ou menos no ponto e ele entrou, a água escorrendo dele. Via o sangue na água escorrendo para o ralo. Que gata selvagem. Só precisava de uma mão forte.
Marie era legal, era bondosa, na verdade meio chata. Perdera a intensidade da juventude. Não era culpa dela. Talvez ele pudesse arranjar um meio de continuar com Marie e ter Victoria por fora. Victoria renovava sua juventude. Precisava de uma porra de uma renovação. E de mais umas boas fodas como aquela. Claro, as mulheres eram todas loucas. Não entendiam que vencer não era uma experiência gloriosa, só necessária.
– Vamos com isso, Buda! – ouviu-a gritar. – Não me deixe aqui sozinha!
– Não demoro, boneca – ele gritou debaixo do chuveiro. Ensaboou-se bem, lavando tudo.
Depois saiu, enxugou-se, abriu a porta do banheiro e foi para o quarto.
O quarto de motel estava vazio. Ela se fora.
A distância entre os objetos comuns e entre os fatos era notável. De repente, ele viu as paredes, o tapete, a cama, as cortinas, a mesa de café, a penteadeira, o cinzeiro com os cigarros deles. A distância entre essas coisas era imensa. O então e o agora estavam anos-luz separados.
Num impulso, ele correu para o armário e abriu a porta. Nada além de cabides.
Então Ted percebeu que suas roupas haviam desaparecido. A roupa de baixo, a camisa, as calças, as chaves do carro e a carteira, seu dinheiro, seus sapatos, suas meias, tudo.
Em outro impulso, olhou embaixo da cama. Nada.
Então viu a garrafa de Cutty Sark, pela metade, sobre a penteadeira, e aproximou-se, pegou-a e serviu-se uma dose. E ao fazer isso viu duas palavras riscadas no espelho da penteadeira com batom cor-de-rosa: “ADEUS, BUDA!”
Ted tomou a bebida, depôs o copo e viu-se no espelho – muito gordo, muito velho. Não tinha ideia do que fazer em seguida.
Levou o Cutty Sark de volta para a cama, sentou-se pesadamente na beira do colchão onde ele e Victoria tinham-se sentado juntos. Ergueu a garrafa e sugou-a, enquanto as vívidas luzes de néon do boulevard entravam pelas persianas empoeiradas.
Ficou sentado, olhando para fora, sem se mover, vendo os carros passarem de um lado para outro.
– Numa fria

Saboreio As Cinzas de Tua Morte

as florações espargem
água inesperada
pela manga da minha camisa,
água inesperada
fresca e pura
como neve –
enquanto espadas
afiadas como talos
penetram
em seu peito
e as doces e selvagens
pedras
caem sobre nós
e
nos encerram.

Foi quando desenvolvi um novo sistema para usar no hipódromo. Eu tinha arrumado três mil dólares em um mês e meio, indo às corridas apenas duas ou três vezes por semana. Comecei a sonhar. Vi uma casinha à beira-mar. Vi-me vestido com roupas caras, calmo, levantando de manhã, entrando em meu carro importado, dirigindo com suavidade na saída da garagem. Vi jantares prazerosos com belos filés, precedidos e sucedidos por deliciosos drinques gelados em copos coloridos. A bela gorjeta. O charuto. E mulheres a mancheias. É fácil se deixar levar por esse tipo de pensamento quando os homens lhe entregam notas graúdas no guichê das apostas. Quando numa corrida de 1.200 m, que leva, digamos, um minuto e nove segundos, você ganha o equivalente a um mês de salário.
Então ali estava eu, de pé no escritório do superintendente. Lá estava ele atrás de sua mesa. Eu tinha um charuto na boca e uísque no meu hálito. Sentia-me endinheirado. Eu parecia endinheirado.
– Sr. Winters – eu disse –, os Correios sempre me trataram bem. Mas há interesses externos que simplesmente exigem minha atenção. Se o senhor não puder me dar uma licença, serei obrigado a me demitir.
– Já não lhe dei uma licença no início do ano, Chinaski?
– Não, sr. Winters, o senhor rejeitou o meu pedido de licença. Desta vez isto não será possível. Ou a licença ou a demissão.
– Tudo bem, preencha o formulário e eu o assinarei. Mas só posso lhe dar noventa dias de dispensa.
– Aceito – eu disse, exalando uma longa coluna de fumaça azul de meu charuto caro.
– Cartas na rua
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15/fevereiro/2025

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