Entorpecer

Entorpecer

Vida, se tu pudesses ser bebericada
Em xícaras de fumaça,
Lá estaria eu, entorpecido
Pelas nuvens do mesmo líquido

Eu poderia voar até o teu colo
Até o teu beijo e até o teu olhar
E penetrar no manto da noite
Para te encarar verdadeiramente

Vida, te quis face a face
E para isso dancei uma valsa,
Uma valsa com a Morte

A doce, inofensiva e serena Morte
Tão fácil de se apaixonar, apaixonou-se
O que me restou foi levá-la para a cama
Lavar-lhe o corpo, oferecer-lhe um pouco de meu amor
E por fim molhar-lhe as pálpebras cansadas

Agora, Vida, que sucumbi a Morte de paixão,
Te quero imensa e fanaticamente
Cubra-me todas as pequenas noites frias
E me liberte nas grandes noites quentes

Ao comando de teus arcanjos
Estou submetido
E de ti, tenho certeza,
As cores todas se alimentam

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