Da Tua Casa à Minha

Todas
as casas de portas fechadas
E o caminho enebriante à minha frente
Tão escuras que são as estradas
Que me conduzem novamente
A mansão sombria de minhas discórdias

Poucos são os transeuntes que me aparecem
Vagabundos de lirismo arcaico que se apetecem
Da chama do umbral da noite
Molhando os dedos e apagando a vela trêmula
No sepulcro sacro do castiçal da boêmia

Resgatam temas de valentia
Em que brigavam por lemas de alforria:
Libertar a alma e o corpo
Amar à exaustão e revelia!

Choram por damas perdidas
E rememoram alegres as perdidas damas
Sonham voltar a saborear deliciosas comidas
E depois roncar solenemente
Em não mais que confortáveis e esquecidas camas

O pouco que sonham lhes é muito
E seu canto é somente onírico e mudo
Não atingem aos nossos peitos
Reverberam, quanto muito
À outros corações vagabundos

Há cachorros que lhes lambem
As chagas que os iguais, sim, mortais
Lhes conferiram em encontros informais
Pois para a morte, a fome, o frio e a violência
Não existe formalidade
Basta um terno e gravata
Carro importado e caneta refinada
Para assinar qualquer suja bravata

Esperam por nova chance
Um amor, emprego, sonhos apenas
E antes que a impossível imagem da felicidade se apague
Mais um fino trago de cachaça num só lance
A esquentar corpo, alma e melenas

São estes os únicos seres que avisto
Quando retorno da tua casa
Já que teus olhos ficaram cravados em meu peito
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