Adélia Prado
Adélia Luzia Prado Freitas é uma escritora brasileira. Seus textos retratam o cotidiano com perplexidade e encanto, norteados pela fé cristã e permeados pelo aspecto lúdico, uma das características de seu estilo único.
1935-12-13 Divinópolis, Minas Gerais, Brasil
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Ruim
Me apanho composta:
as vísceras, o espírito,
meu ânima em dispneia.
Nem uma seta consigo pintar na estrada.
Ô tristeza, eu digo olhando meu livro.
Ô bobagem.
Ô merda,
polivalentemente, eu digo.
De que me adiantou pegar na mão do poeta
e mandar pra frente da batalha feminista
a mulher do meu amado,
se o que me sobra é um nó,
uma ruga nova,
a lembrança da gafe abominável?
Tudo para encruado.
Nem ao menos o rabo da poesia,
o fedor de vida
que às vezes deixa no ar
seu intestino grosso.
Ô Deus, eu digo enraivada,
esmurrando o ar com meu murrinho de fêmea.
Ó. Ai. Ai ai ai...
Se chovesse ou eu ficasse grávida,
quem sabe?
Na saída da cidade desconhecida
duas placas altas apontavam:
IBES.................ARIBIRI
Um preto no cruzamento
olhava atentamente para o fim dos tempos.
Eu olho meu olho fixo.
Como se não houvesse cantochão nem monges.
as vísceras, o espírito,
meu ânima em dispneia.
Nem uma seta consigo pintar na estrada.
Ô tristeza, eu digo olhando meu livro.
Ô bobagem.
Ô merda,
polivalentemente, eu digo.
De que me adiantou pegar na mão do poeta
e mandar pra frente da batalha feminista
a mulher do meu amado,
se o que me sobra é um nó,
uma ruga nova,
a lembrança da gafe abominável?
Tudo para encruado.
Nem ao menos o rabo da poesia,
o fedor de vida
que às vezes deixa no ar
seu intestino grosso.
Ô Deus, eu digo enraivada,
esmurrando o ar com meu murrinho de fêmea.
Ó. Ai. Ai ai ai...
Se chovesse ou eu ficasse grávida,
quem sabe?
Na saída da cidade desconhecida
duas placas altas apontavam:
IBES.................ARIBIRI
Um preto no cruzamento
olhava atentamente para o fim dos tempos.
Eu olho meu olho fixo.
Como se não houvesse cantochão nem monges.
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