Pablo Neruda
Pablo Neruda foi um poeta chileno, bem como um dos mais importantes poetas da língua castelhana do século XX e cônsul do Chile na Espanha e no México.
1904-07-12 Parral, Chile
1973-09-23 Santiago, Chile
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Orégano
Quando aprendi com lentidão
a falar
creio que já aprendi a incoerência:
ninguém me entendia, nem eu mesmo,
e odiei aquelas palavras
que me retornavam sempre
ao mesmo poço,
ao poço de meu ser ainda escuro,
ainda transpassado do meu nascimento,
até que me encontrei numa plataforma
ou num campo recém-estreado
uma palavra: orégano,
palavra que me desenredou
como que me tirando de um labirinto.
Não quis aprender mais nenhuma palavra.
Queimei os dicionários,
encerrei-me nessas sílabas cantoras,
retrospectivas, mágicas, silvestres,
e a todo grito pela beira
dos rios,
entre as tábuas afiladas,
ou no cimento da cidadela,
em minas, oficinas e velórios,
eu mastigava minha palavra orégano
e era como se fosse uma pomba
que eu soltava entre os ignorantes.
Que cheiro de coração temível,
que cheiro de violetário verdadeiro,
e que forma de pálpebra
para dormir fechando os olhos:
a noite tem orégano
e outras vezes, fazendo-se revólver
acompanhou-me passeando entre as feras:
essa palavra defendeu meus versos.
Uma mordida, uns caninos (iam
sem dúvida destroçar-me
os javalis e os crocodilos):
então
tirei do bolso
minha estimável palavra:
orégano, gritei com alegria,
brandindo-a em minha mão trêmula.
Oh, milagre, as feras assustadas
pediram-me perdão e me pediram
humildemente orégano.
Oh, lepidóptero entre as palavras,
oh palavra helicóptero,
puríssima e prenhe
como uma aparição sacerdotal
e carregada de aroma,
telúrica como um leopardo negro,
fosforescente orégano
que me serviu para não falar com ninguém,
e para aclarar meu destino
renunciando ao alarde do discurso
com um secreto idioma, o do orégano.
a falar
creio que já aprendi a incoerência:
ninguém me entendia, nem eu mesmo,
e odiei aquelas palavras
que me retornavam sempre
ao mesmo poço,
ao poço de meu ser ainda escuro,
ainda transpassado do meu nascimento,
até que me encontrei numa plataforma
ou num campo recém-estreado
uma palavra: orégano,
palavra que me desenredou
como que me tirando de um labirinto.
Não quis aprender mais nenhuma palavra.
Queimei os dicionários,
encerrei-me nessas sílabas cantoras,
retrospectivas, mágicas, silvestres,
e a todo grito pela beira
dos rios,
entre as tábuas afiladas,
ou no cimento da cidadela,
em minas, oficinas e velórios,
eu mastigava minha palavra orégano
e era como se fosse uma pomba
que eu soltava entre os ignorantes.
Que cheiro de coração temível,
que cheiro de violetário verdadeiro,
e que forma de pálpebra
para dormir fechando os olhos:
a noite tem orégano
e outras vezes, fazendo-se revólver
acompanhou-me passeando entre as feras:
essa palavra defendeu meus versos.
Uma mordida, uns caninos (iam
sem dúvida destroçar-me
os javalis e os crocodilos):
então
tirei do bolso
minha estimável palavra:
orégano, gritei com alegria,
brandindo-a em minha mão trêmula.
Oh, milagre, as feras assustadas
pediram-me perdão e me pediram
humildemente orégano.
Oh, lepidóptero entre as palavras,
oh palavra helicóptero,
puríssima e prenhe
como uma aparição sacerdotal
e carregada de aroma,
telúrica como um leopardo negro,
fosforescente orégano
que me serviu para não falar com ninguém,
e para aclarar meu destino
renunciando ao alarde do discurso
com um secreto idioma, o do orégano.
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